O GLOBO - 16/02
Imprensa profissional é importante para o funcionamento da democracia e para fiscalizar trabalho das autoridades eleitas e destino do dinheiro público
A orientação autoritária de governos, interesses econômicos, o crime organizado, conflitos, a violência em algumas situações, como a cobertura de manifestações de rua, e leis com o objetivo de “regular” o trabalho jornalístico têm colocado em risco a vida e os empregos dos jornalistas e enfraquecido a liberdade de imprensa na América Latina, um dos sustentáculos da democracia. O Grupo de Diários América (GDA), do qual O GLOBO faz parte, relatou as dificuldades na série “As ameaças à liberdade de imprensa”.
A hostilidade contra a imprensa profissional se manifesta como padrão de governos bolivarianos, a começar pelos de Venezuela e Equador, que não toleram, de forma visceral, diversidade de opiniões e críticas. Mas é também a situação que prevalece na Argentina, já que o kirchnerismo tem muitos pontos de contato com o chavismo. No Brasil, a integridade física dos jornalistas é ameaçada. Segundo a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), o país teve o maior número de profissionais mortos nas Américas em 2013 — cinco. Com isso, caiu duas posições e ocupa o 108º lugar entre 179 nações no ranking da RSF. E 2014 começa com a trágica morte do cinegrafista da Bandeirantes Santiago Andrade, atingindo na cabeça por um rojão disparado por black blocs, quando cobria protesto contra aumento das passagens de ônibus no Rio.
Na Venezuela (117º no ranking da RSF), o chavismo, no poder desde 1999, usou todo seu poder político e econômico para transformar a mídia no grande canal oficial. E em grande parte o conseguiu. Pela primeira vez no país, um governo controla quase totalmente a televisão. E agora, em séria crise econômica, o governo Maduro economiza divisas na importação de papel de imprensa. Pelo menos sete periódicos regionais já deixaram de circular. A eficácia do dispositivo oficial foi comprovada quando os jornais e a TV se autocensuraram na cobertura dos protestos de rua dos últimos dias contra o governo, em que três pessoas morreram. Cristina Kirchner levou às últimas consequências as manobras de seu marido e antecessor, Néstor, para manipular a imprensa na Argentina (54º lugar), esgrimindo com a verba oficial de publicidade e uma Lei de Meios para desmantelar a mídia profissional. Numa vitória do Grupo Clarín, o mais hostilizado, a Suprema Corte determinou que o governo promova de forma igualitária a distribuição da publicidade oficial. Mas o Clarín foi derrotado na luta jurídica em torno da Lei de Meios.
No Equador (119º, no rankink da RSF), o presidente Correa dispõe de novos meios para pressionar a imprensa independente depois da entrada em vigor de uma lei que instituiu o Conselho de Regulação da Comunicação com cinco membros, dos quais quatro vinculados ao governo. A democracia precisa evoluir na América Latina. É direito do povo cobrar das autoridades. É dever da imprensa fiscalizar, denunciar o que estiver errado, exigir providências. Só a corruptos e déspotas interessa uma imprensa “chapa branca”.
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