FOLHA DE SP - 18/12
RIO DE JANEIRO - Em toda essa triste melódia envolvendo a Portuguesa de Desportos, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva e o rebaixamento (ainda dependendo de recurso) do clube à segunda divisão, o nome mais citado nos artigos e reportagens --e sem o qual não é possível entender a história-- é o do meia Héverton. Aquele que, expulso no jogo da Lusa contra o Bahia e suspenso por dois jogos, cumpriu um e foi escalado irregularmente contra o Grêmio.
Um argumento repisado pela Portuguesa para caracterizar que não fez por mal foi o de que não tirou partido da presença de Héverton no jogo. Come e dorme crônico, ele só entrou aos 32 minutos do segundo tempo. Atuou por 13 minutos e, segundo a própria Lusa, mal pegou na bola. Não driblou, não passou, não chutou a gol nem fez cócegas no adversário. Talvez por isso, seus torcedores nem se lembrem dele no gramado. É como se, tendo entrado ou não, isso não fizesse diferença. "Ele não é nenhum Pelé", decretou o advogado da Portuguesa.
Que Héverton não é Pelé, sabe-se. Mas qual jogador é Pelé? E houve momentos, na sua vida profissional, em que nem Pelé foi Pelé. Donde ninguém pode ser apedrejado por não ser Pelé. Mas o que se fez com Héverton nos últimos dias foi pior. Não lhe deram nem o direito de ser Héverton.
Para salvar sua face de ingênuos e amadores, os dirigentes da Lusa preferiram diminuir o profissional, taxando-o de cabeça de bagre aos olhos e ouvidos de milhões.
Afinal, Héverton é bom jogador ou não? Não sei. Nunca o vi em ação e, se vi, não me lembro. Mas garanto que, para si mesmo, Héverton é um craque. Enxerga o jogo como ninguém, faz lançamentos de 40 metros, dribla no espaço de um lenço e surge como elemento surpresa para fulminar o goleiro. Talvez só faça isto em sonho. Mas o massacre a que o submeteram já não lhe dá nem o direito de sonhar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário