FOLHA DE SP - 18/12
A imensa crise social e econômica que há seis anos o mundo está vivendo e que mantém desempregados ou semiempregados mais de 40 milhões de cidadãos que viviam honestamente do seu trabalho foi resultado de uma conjunção diabólica: 1) o autoengano de um certo segmento do setor financeiro que afirmava ter descoberto a pedra filosofal que lhe permitia calcular o risco embutido no futuro, com 2) o mais absoluto laxismo de bancos centrais que acreditaram nisso.
Ela não tem nada a ver com o papel fundamental do "mercado financeiro", que é essencial para o desenvolvimento econômico porque coordena, por meio da taxa de juros real, a poupança de milhões de cidadãos com as necessidades de financiamento de milhares de empreendedores. Estes expandem a sua atividade para suprir a demanda presente dos mesmos cidadãos cuja poupança lhes será devolvida no futuro, acrescida dos juros.
É evidente que essa taxa de juro real revela uma relação de confiança entre o presente e o futuro, o que sugere que ela tem uma cointegração com a produtividade física do capital e está longe de ser um fenômeno puramente monetário. Na teoria isso dá "pano para manga".
Em condições normais de pressão e temperatura, é através da taxa básica de juro nominal, descontada da "expectativa" de inflação futura da sociedade, que os bancos centrais controlam a taxa de juro real e, consequentemente, o nível de atividade e do emprego.
O problema é que, desde a crise, a pressão e a temperatura não voltaram à normalidade. Para tentar retornar a ela, os bancos centrais mudaram sua forma de fazer política monetária e os governos mudaram sua política fiscal, o que hoje revela um resultado paradoxal: uma taxa de inflação declinante e uma imensa acumulação de dívida pública, com resultados muito lentos em matéria de crescimento e de emprego.
Como a taxa de desemprego se aproxima dos 6,5%, que é o objetivo do Fed (banco central dos EUA), em algum momento ele vai reduzir suas facilidades monetárias que têm um custo fiscal ameaçador. Isso terá consequências sobre toda a economia mundial por dois motivos. Primeiro, porque esse é um problema sobre cuja solução ninguém (nem o Fed) tem experiência e, segundo, porque o Fed tem sido muito desajeitado em sua comunicação com o "mercado", de onde se conclui que tudo pode acontecer, inclusive nada!
É exatamente por isso que o Brasil tem que se preparar para tudo: uma "marolinha" ou um "tsunami". A condição necessária para isso é continuar a dar claros sinais de que buscaremos recuperar com firmeza a credibilidade da política fiscal, que hoje ameaça o nosso "rating" soberano.
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