O GLOBO - 18/12
Ainda não dá para dizer que a crise acabou, mas o mundo melhorou nos últimos meses. Houve um ponto a partir do qual o pior ficou para trás. Os EUA voltaram a crescer, o desemprego caiu. A Irlanda não precisa mais de ajuda, e Espanha, Portugal e Grécia ganharam um refresco das agências de classificação de risco. O estranho é o Brasil, que não faz parte da crise e tem aumentado o risco.
Os Estados Unidos vão redimir os estímulos monetários, tudo é apenas uma questão de tempo e ritmo. A taxa de desemprego caiu de 10%, no pior momento, para 7%, em novembro, a mais baixa dos últimos cinco anos. O PIB do terceiro trimestre foi revisto de 2,8% para 3,6%, anualizado. O país cresce mesmo com o forte corte de gastos do governo federal, que reduziu o déficit a menos da metade em três anos, de 9,2%, em 2009, para 4,1% este ano.
Houve também melhora na área política. A polarização entre os dois partidos deu uma trégua com a aprovação na Câmara do acordo em tomo do orçamento. Há menos risco de paralisia administrativa, como se viu recentemente.
Na Europa, falava-se, há dois anos, em colapso do euro. Eles foram mais fundo na crise e por isso voltam mais devagar. O desemprego continua alto e o crescimento, baixo. Mas ninguém fala mais em saída da Grécia do bloco, a Espanha já está deixando a recessão após cinco trimestres, e a Irlanda anunciou que não precisa mais de ajuda do FMI.
Em novembro, a Mood/s, uma das principais agências de classificação de risco, mudou de negativa para estável o rating de Espanha e Portugal e elevou em um degrau a Grécia. Os gregos continuam tendo uma das piores notas possíveis, mas iniciaram a lenta escalada da recuperação. Os espanhóis, assim como os irlandeses, também anunciaram que não precisam de mais ajuda do FMI para capitalizar os seus bancos.
O economista Rodolfo Oliveira, da Tendências Consultoria, lembra que em outubro de 2008 o déficit comercial somado de Itália, Espanha, Grécia e Portugal chegou a € 180 bilhões, em 12 meses. Em setembro deste ano, caiu a € 18 bi.
Como esses países não podem desvalorizar a moeda, a melhora do número significa aumento de competitividade dessas economias.
— O mercado de títulos públicos, medido pelo CDS, já mostra que o risco da Itália, Espanha e Irlanda é menor do que o do Brasil — disse.
Repare no gráfico. A medida de risco do Brasil subiu de 106 pontos, de janeiro de 2011, para 186 pontos, em dezembro deste ano. A pontuação da Itália caiu de 241 para 165, a da Espanha, de 349 para 148, e da Irlanda teve a redução mais surpreendente, de 609 pontos para 122. Quanto menor o número, menor a desconfiança dos investidores.
Essa percepção de risco do Brasil pode ser passageira, mas preocupa porque estamos piores hoje do que países que viveram o olho do furacão. A nota, como se sabe, acaba se refletindo no custo dos financiamentos externos tomados pelas empresas brasileiras.
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