O GLOBO - 09/12
A economia sempre ocupa lugar de destaque na agenda das campanhas eleitorais. Em 2002, à medida que a candidatura de Lula se fortalecia nas pesquisas, os mercados reagiram negativamente, o dólar passou a subir e a pressionar a inflação. O candidato do PT, então, foi forçado a se comprometer, por meio da Carta ao Povo Brasileiro, a manter as bases da política econômica de FH — tripé responsabilidade fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante, e, além disso, respeito aos contratos. Deu certo, porque a dupla Antonio Palocci (Fazenda) e Henrique Meirelles (Banco Central) pôde aplicar o receituário clássico de estabilização da economia: controle de gastos e elevação dos juros.
O tema da economia voltaria com força na campanha de 2010, na esteira do esforço para que o impacto interno da crise mundial deflagrada em 2008 a partir de Wall Street fosse o mínimo possível. O assunto retornou ao debate de maneira favorável à eleição da candidata do PT à sucessão de Lula, a ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff. Os impactos da crise foram compensados por uma política de ampliação de gastos, como devia ser, e as turbulências terminaram sendo em parte contidas. A economia reagiu, o PIB naquele ano cresceu 7,5%, e Dilma foi eleita.
Em 2014, o assunto voltará ao debate político-eleitoral. Na verdade, como a campanha foi antecipada pelo próprio PT, já se trava acesa discussão sobre a economia. E desta vez o tema é ingrato para o projeto petista de reeleição de Dilma, favorita a ganhar em outubro. Isso porque, escudada no pretexto do combate à crise — “política anticíclica”—, a presidente Dilma, coerente com sua visão “desenvolvimentista” de mundo, manteve elevados os gastos públicos e ainda fez disparar a dívida pública, pelo constante lançamento de títulos do Tesouro, para injetar dinheiro em bancos públicos (BNDES, Banco do Brasil, Caixa). Esta política, se ministrada com os devidos cuidados, evitaria maiores pressões inflacionárias e outros efeitos colaterais. Tornada permanente, no entanto, injetou uma overdose de estímulos, e os resultados negativos estão aí, visíveis.
Como foram excessivos os incentivos ao crédito, somados a aumentos salariais acima da produtividade, tudo junto elevou a pressão sobre a inflação, quase que engessada pouco abaixo dos 6%, distante da meta de 4,5%. Não houve alternativa a não ser o Banco Central voltar a elevar os juros.
Faliu, portanto, o projeto de retomada do crescimento — que continua anêmico, abaixo dos 2,5% — pela via do consumo. A presidente se convenceu, ao menos, da necessidade de atrair o setor privado, para ativar os investimentos na precária infraestrutura do país. Ela e o PT esperam que os primeiros resultados já venham na campanha do ano que vem.
Mas a herança maldita do voluntarismo está posta: desequilíbrio externo, superávit primário muito baixo, contas públicas sob desconfiança, dadas as mágicas da “contabilidade criativa” para embonecar os números, e o consequente perigo de rebaixamento do Brasil pelas agências internacionais de avaliação de risco. São assuntos indigestos para a candidata.
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