ZERO HORA - 08/12
Os cinemas em shoppings possuem um conforto e uma qualidade técnica que só confirma a evolução do setor, mas atire a primeira pipoca quem não sente saudades dos cinemas de bairro.
Como passei dos 11 aos 25 anos morando na D. Pedro II, o Astor era o mais perto de casa. Situado na esquina da Benjamim com a Cristóvão, tinha uma fachada imponente e era vizinho do cineteatro Presidente (onde nunca vi filmes, só shows). Foi no Astor que assisti Laranja Mecânica e E.T.
E havia o cine Colombo ali perto, acho que um dos primeiros a fechar, pois só recordo de ter ido lá quando criança, em turma, fazendo uma bagunça na primeira fila que atordoava os adultos sentados atrás de nós. Mas o que adultos faziam assistindo aos filmes do J.B.Tanko, como Som, Amor e Curtição?
Teve a fase do Coral, em frente ao Parcão, com sua imensa escadaria que nos reconduzia à realidade ao deixarmos a sala escura. Foi lá que assisti, aos 14 anos, meu primeiro filme proibido para menores de 18. Minha mãe me emprestou seus óculos escuros e cruzei o saguão feito uma Jackie Onassis mirim para assistirmos juntas a Nosso Amor de Ontem, com Barbra Streisand. E na véspera de um aniversário, quando bateu meia-noite e passei dos 16 para os 17 anos, estava dentro do Coral também, assistindo ao The Last Waltz, antológico show de despedida da The Band, filmado por Martin Scorsese. Bem melhor do que ouvir Parabéns a Você.
Difícil imaginar que houve um tempo em que eu ficava facilmente acordada à meia-noite, ainda mais dentro de um cinema. Como esquecer as sessões da madrugada no ABC, na Venâncio? Woodstock e Blade Runner foram vistos lá. Assisti Blade Runner apenas uma vez, sou um caso a ser estudado pela ciência. Na época, quem assistia menos, assistia quatro ou cinco vezes.
Perto do ABC tinha o Avenida, na João Pessoa, onde fui introduzida pela primeira vez à obra de Pedro Almodóvar com seu hilário Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos.
O Vogue, na Independência, era meu reduto depois das aulas da faculdade. Foi lá que assisti obras políticas como Sacco & Vanzzetti, A Batalha de Argel e todos os do Costa Gavras, e foi lá também que assisti ao primeiro filme com o primeiro namorado (Jonas, que Terá 25 Anos no Ano 2000 – nome do filme, não do namorado).
No Centro, tinha o Imperial e o Cacique, lado a lado. Difícil lembrar em qual deles assisti, recém liberado pela censura, a O Último Tango em Paris ao lado do meu irmão, na única vez em que fomos ao cinema juntos depois de virarmos gente grande (eu com 18, ele com 16). E foi no Cine Victória, na Borges, que me encantei com A Marvada Carne, que segue na lista dos meus filmes nacionais preferidos.
Nunca fui ao Capitólio.
Por fim, a dobradinha Baltimore e Bristol, na Oswaldo Aranha. O Bristol era cult, com sua pequeníssima sala no segundo andar, alcançável por uma escada estreita onde nos espremíamos em filas para assistir aos ciclos do Godard. Já o Baltimore tinha uma programação mais comercial. Foi onde assisti a Uma Linda Mulher, já que filme cabeça todo dia não dá.
Qual o mais inesquecível dos cinemas? Na verdade, ficava a 200km de Porto Alegre: era o da SAPT de Torres, onde assisti desde os filmes do Roberto Carlos até 2001, Uma Odisseia no Espaço, sempre batendo com os pés no chão antes do início, fazendo barulho no assoalho de madeira para marcar aqueles anos que não voltariam mais.
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