O GLOBO - 30/11
O bem-sucedido leilão dos aeroportos do Galeão e Confins, que aportará ao caixa do governo R$ 20,8 bilhões e que foi vencido pelo que há de melhor em matéria de gestão aeroportuária no mundo, deverá acender o sinal amarelo para que o chamado instinto animal do investidor seja despertado e futuros investimentos na infraestrutura, com essa qualificação, ocorram proximamente mediante a realização de novos leilões. Claro está que a elevação das taxas de retorno e a redução do percentual da Infraero de 50% para 49% no negócio foram decisivas para a participação dos vencedores: a Odebrecht/Changi, que arrematou o Galeão, e a Andrade Gutierrez/Camargo Correa/Operador do Aeroporto de Munique, que arrematou Confins, com ágio médio total de 294% acima do preço mínimo.
Afirmava em artigo publicado neste jornal, em 15 de julho, que o sucesso desses e dos próximos leilões seria o último round do governo da presidente Dilma Rousseff na luta para colocar o país na trajetória do crescimento, argumentando que o modelo baseado na expansão do consumo das famílias estava esgotado e que o setor público não dispunha dos meios financeiros e gerenciais para alavancar os investimentos indispensáveis na infraestrutura tão necessários à expansão da economia brasileira, ora exibindo taxas medíocres inferiores a 2% ao ano. Consequentemente, caberia ao setor privado, como última e definitiva instância, realizar tais investimentos, via concessões de ativos públicos, com a garantia de taxas de retorno satisfatórias.
De fato, os últimos leilões, especialmente esse dos aeroportos e o da BR-163, a Rodovia da Soja — vencido pela Construtora Odebrecht — abriram uma janela de confiabilidade no governo por parte do empresariado, que vinha desanimado e reticente em participar do programa de privatizações. Agora é só seguir adiante, estreitando-se cada vez mais o diálogo com os empresários na perspectiva de mais investimentos em logística, seguramente um dos maiores gargalos ao crescimento e ao aumento da competitividade da economia brasileira.
Ressalte-se ainda que, concomitante a essa mais estreita articulação com a iniciativa privada, cabe, também, ao governo fazer um rigoroso e transparente ajuste nas contas públicas de modo a reduzir o ritmo da inflação, trazendo-a para o centro da meta de 4,5%. Tal ajuste, com vistas também a elevar o superávit primário, implicaria na estabilização ou mesmo na redução da taxa básica de juros, de fundamental importância para estimular os investimentos e desacelerar a escalada da dívida pública, que bateu na casa de R$ 2 trilhões, perfazendo 60% do PIB. Além, é claro, de pontuar positivamente o país pelas agências internacionais de risco, o que elevaria substancialmente o grau de investimento e a nota de crédito, ora em vias de rebaixamento. Por conseguinte, em médio prazo, abrir-se-ia o sinal verde para o crescimento sustentável e continuado a taxas mais elevadas. Sem dúvida, em face do baixo nível de desemprego ora vigente, este seria o momento adequado para se equilibrar as contas públicas.
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