FOLHA DE SP - 30/11
Voltarei a escrever no jornal, apenas sem o imperativo da colaboração semanal, encerrada com esta página
Octavio Frias de Oliveira, saudoso amigo, me convidou há muitos anos para escrever a coluna semanal "Letras Jurídicas" nesta Folha. Seu redator, Theofilo Cavalcanti Filho, advogado e jornalista dos melhores, havia falecido.
Não estava em meus planos de advogado voltar ao jornalismo, mas a insistência do amigo me venceu. A opção foi ótima. Gerou alegria e realização em área especializada do trabalho jornalístico.
No curso dos anos, a coluna sofreu modificações, sempre em estreito acordo com a Redação. Foi assim quando acrescida a divulgação de obras jurídicas.
Ao todo, são mais de 30 anos. Por isso, o longo tempo da vida me mostra que é hora de parar. Este jornal tem jornalistas qualificados para o exame severo dos assuntos nos ramos da ciência jurídica, na aplicação desta aos fatos de cada dia. E mais, a ponderação crítica das alternativas inovadoras.
Com outro amigo, o jornalista, escritor e advogado Otavio Frias Filho, Diretor Editorial da Folha, chega hoje a última etapa da honrosa tarefa.
Foram milhões de palavras escritas, marcadas pela liberdade que me foi assegurada. O jornal passou da paginação variável (pré-eletrônica) ao perfil atual, com espaços contados pelo número de toques do computador em cada coluna.
Posso ilustrar a mudança. Comecei a vida profissional em 1947, como locutor de rádio. Depois passei a jornalista.
Imagine o leitor que escrevi, na antiga "Gazeta Esportiva", a descrição do quinto gol do Brasil no campeonato mundial em 1958, na Suécia. Traduzi quadrinhos do Pato Donald, no início da editora Abril. Habituei-me à variedade até formar-me em direito, em 1954, no largo São Francisco.
Nos decênios decorridos, as mutações seguidas marcaram a vida do ser humano. Alcançaram desde assuntos corriqueiros aos mais complexos. Cada alteração desafia a capacidade de quem escreve para assegurar a compreensão do leitor no espaço pré-fixado da página. Nesse perfil, o convívio com os colegas da Folha foi sempre enriquecedor.
Deixar a página jurídica me dá tristeza, embora certo que não deixo o jornal. Em entendimento direto com Otavio Frias Filho, voltarei a escrever a respeito do direito e de sua aplicação, apenas sem o imperativo da colaboração semanal, encerrada com esta página.
Foi clara a penetração ampliada da coluna, com o público acrescido, desde quando passou a ser divulgada também pelo UOL. Na comunicação eletrônica, jornais e revistas da clássica mídia impressa continuarão prestigiados, longe das primeiras resistências à eletrônica. Nela o jornalismo é imbatível, com a notícia instantânea. A leitura meditada continuará, porém, a desmontar a complexidade de cada evento e do seu significado.
Na ponderação demorada a respeito desse período basta pensar na infinidade de mudanças e nas transformações da segunda metade do século 20 e daí até o presente. Da medicina ao direito, do rádio em ondas médias à comunicação instantânea e planetária, do telefone rústico ao tablet. Tudo mudou, para o ser humano, em meio século.
Os caminhos da vida e dos costumes se defrontaram com muitas alterações desde o primeiro comentário, publicado nesta coluna. Na medida do possível, ela ajudou a compreensão do direito e continuará a ajudar.
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