FOLHA DE SP - 15/11
O início da retirada dos estímulos da economia dos EUA deve ficar para o fim do 1º trimestre de 2014
O Banco Central americano começou ontem o processo de transição do seu comando. A senhora Janet Yellen apresentou-se em audiência do comitê bancário do Senado, cumprindo com isso o roteiro de confirmação de sua nomeação para a chefia do BC mais poderoso do mundo.
Na democracia americana, a responsabilidade pela indicação é do presidente da República, mas é necessária a aprovação pela Câmara Alta do Legislativo para que a nomeação seja efetivada. E esse passo inicia-se com a sabatina da candidata, que aconteceu ontem.
Normalmente essa rotina democrática prende a atenção dos mercados dada a relevância que a política monetária dos Estados Unidos tem sobre as maiores economias do mundo. Mas ontem a tensão chegou a níveis poucas vezes vistos em situações semelhantes.
E isso por dois motivos principais; o primeiro é que se trata da substituição de um verdadeiro herói na batalha da estabilização econômica, depois que um terremoto financeiro ocasionou fraturas terríveis no tecido econômico dos quatro cantos do planeta.
Já o segundo está associado às expectativas de que o Fed dê início à normalização da política monetária depois de vários anos de uma expansão monetária nunca vista na terra do Tio Sam.
A saída de Ben Bernanke do comando do Fed, depois de mais de oito anos, dá-se sob o impacto de dois fatos marcantes: ele sai como vencedor da batalha para evitar que o desastre econômico dos anos 1930 do século passado ocorresse novamente, depois que o colapso de Wall Street, em 2008, repetiu 1929. Mesmo seus mais agressivos inimigos hoje reconhecem isso, apesar de terem anunciado aos quatro ventos que sua política de juros baixos levaria os Estados Unidos a um desastre econômico inevitável.
Mas ele deixa o cargo de presidente do Fed antes de terminar sua missão de devolver a funcionali- dade da política monetária depois de anos de certo experimentalis- mo keynesiano. Essa missão vai ficar para sua sucessora, a economista Janet Yellen, e por isso a tensão tomou conta dos mercados financeiros.
Considerada uma "dove" --pomba-- no jargão do mercado, caberá a ela a tarefa de definir o momento em que o Fed iniciará a retirada dos estímulos monetários cria- dos durante a gestão Bernanke. E o mercado já se prepara para mais uma de suas corridas histéricas quando isso ocorrer.
Os juros nos Estados Unidos devem então ter um segundo momento de alta, criando verdadeiras ondas especulativas nos mercados financeiros do mundo.
Os países emergentes --segundo a opinião da maioria dos analistas-- serão duramente atingidos, com desvalorização de suas taxas de câmbio, uma alta expressiva da inflação e, posteriormente, uma nova rodada de elevação dos juros internos pelos BCs na tentativa de controlar novamente a inflação. Uma tempestade perfeita, como bem definiu o ex-ministro Delfim Netto poucos dias atrás.
Mas vejamos o que a nova presidente do Fed disse aos senadores e como os mercados reagiram à sua fala. A sra. Yellen inovou a rotina da comissão do Senado ao divulgar na internet o texto de sua fala e dar tempo aos mercados de conhecer sua posição antecipadamente. Com isso, quebrou o clima de tensão que havia e diminuiu a importância de seu depoimento.
Confirmou sua posição --já conhecida de todos-- bastante cautelosa em relação à retirada dos estímulos especiais que vigoram já há algum tempo, reafirmando que prefere errar na direção de um prazo maior do que o necessário para a vigência do chamado QE.
E, ao relacionar de forma clara as futuras decisões do Fed na direção da normalização monetária aos dados econômicos, que serão divulgados ao longo de 2014, deixou de lado qualquer compromisso formal com uma data, como parte do mercado vinha trabalhando.
Para o último trimestre de 2013 espera-se uma desaceleração do crescimento da economia americana --pelo menos é nisso que acredito--, e o tal momento da verdade, tão esperado por muitos --lá fora e aqui no Brasil--, vai ficar para pelo menos o fim do primeiro trimestre de 2014.
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