FOLHA DE SP - 15/11
Boato sobre mudança nos EUA se aquieta e dólar pode voltar a cair, mas não é esse o nosso problema
OS PALPITES sobre o futuro da política econômica dos EUA variam desde setembro de modo agora quase pendular e mais ou menos quinzenal.
Ontem, a futura presidente do banco central americano (o Fed), Janet Yellen, confirmou no Congresso americano as palavras e intenções de seu discurso vazado na noite quarta-feira, induzindo "o mercado" a desacreditar que a mudança está próxima (entre dezembro e março).
Esse era o zum-zum dos últimos 15 dias.
Numa quinzena, como na passada, chuta-se que "agora vai", que apareceram sinais importantes de que a economia americana vai começar a crescer. Assim, aposta-se (literalmente) que o BC deles vai fechar um pouco a torneira de dinheiro que despeja na economia.
Como já se deve saber, pela recorrência do assunto, um aperto monetário miudinho eleva juros por lá, encarece o dólar por aqui, derruba Bolsas pelo mundo etc., os efeitos mais evidentes da mudança.
As declarações de Yellen e a escassez de indicadores que alimentassem apostas altistas na economia americana anestesiaram a conversa sobre o começo lentíssimo, gradual e seguro da prévia do aperto monetário americano (menos dinheiro na praça).
Refresco para nós, que podemos sofrer com uma alta forte, talvez exagerada e acelerada do dólar? Um refresco temporário e aguado, cada vez mais aguado.
Primeiro, porque a própria incerteza e as variações constantes do dólar já não nos fazem bem. Segundo, poucos duvidam de que essa torrente de dinheiro do Fed tem de começar a minguar em algum momento (quem não duvida é ainda mais pessimista sobre o estado do mundo). Em algum momento de 2014.
Logo, para quem pensa assim, o dólar subirá, o capital ficará um tanto mais escasso para países emergentes e, tudo mais constante, o dinheiro ficará mais caro por aqui.
Terceiro, mesmo que os Estados Unidos voltem a crescer em ritmo decente e a mudança na política monetária americana não cause desordens maiores, a gente não está bem em posição de aproveitar bem a maré eventualmente boa.
No fim das contas, parece positivo que os EUA, maior economia do mundo, cresçam, certo? Os americanos são o grande mercado consumidor da produção mundial, compram mais do que vendem etc. Algum deveria sobrar para nós, pelo menos por tabela.
Talvez sobre, mais por tabela, pois nossas vendas diretas ao mercado americano são miudinhas em relação ao tamanho da nossa economia.
Também não vamos aproveitar a maré boa por desarranjos internos, que não vão passar até 2015, pelo menos, com boa vontade.
Essa é a conversa geral de quem tem dinheiro e voz no mundo da finança, aqui e lá fora. Não se trata de previsão de catástrofe, claro, mas de turbulência adicional para um aviãozinho que já voa bem avariado, com instrumentos quebrados.
Logo, é melhor ignorar a conversa de que o "Brasil ganhou tempo", que tem uma "pausa para respirar", que inflação vai deixar de crescer "x" centésimos porque o dólar caiu durante umas semanas e outros diversionismos. Nosso problema maior nem é esse, a virada monetária americana, e, seja como for, "vamos estar enrolando" a solução deles até pelo menos 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário