FOLHA DE SP - 18/10
Só vou usar rede social e Twitter se tarântulas censoras ameaçarem tomar o STF de ataque
Sou do tempo em que a pessoa mais desequilibrada da sala costumava ser sempre eu. Para você ver como as coisas mudam. Hoje, consigo não só contar até dez antes de cometer alguma asneira, como fui buscar prazer em outras localidades que não os bueiros infectos que outrora visitava nos horários em que o cidadão de boa cêpa começa a adentrar o 13º ciclo REM do sono.
Não chego a ser nenhuma Darlene Glória arrependida, mas já conquistei o troféu Baby Consuelo da regeneração. Uma Baby Consuelo, veja bem, SEM empresária (pé de pato mangalô três vezes!), mas ainda assim que fez da recuperação da dependência seu sacerdócio e da virtude da vida saudável seu lema.
Nem por isso, deixo de estar imensamente preocupada. Sabe o que é? Ontem vi na "Ilustrada", na coluna daquele adônis do Calligaris, que quem não lê ficção literária bom sujeito não é. Não adianta ler apenas. Nos últimos tempos, troquei a remuneração de um trabalho feito para uma livraria pelos seguintes e portentosos volumes: "Formação do Brasil Contemporâneo", Caio Prado Jr.; "Raízes do Brasil", Sérgio Buarque de Holanda; "A Integração do Negro na Sociedade de Classes", Florestan Fernandes e assim vai.
Pois é, nem abri. Alguns foram e voltaram de Miconos virgens, outros eu levei para conhecer uma das maravilhas do mundo, a cidade de Machu Picchu, e mais um par foi comigo até a Terra do Fogo, e de lá voltamos três desconhecidos.
Se eu não leio nem mesmo livros que me dariam substância para entender o país em que vivo e, consequentemente, para tentar enriquecer minha conta bancária, digo, o meu diálogo com você, meu ursinho de pelúcia, imagine se eu teria tempo de enfrentar um "Moby Dick"? Contardo menciona estudo que diz que a ficção ajuda a aprimorar a capacidade de reconhecer o que os outros sentem, nos ensina a ter empatia.
Ou seja, estou perdida e o mundo prestes e escoar pelo ralo. Entre iPhone, iPad, BigMac e WhatsApp, ao fim do dia tão sugada, que só consigo ficar olhando imagens no Instagram antes de pegar no sono. Nem mesmo na reprise de "Água Viva" consigo me concentrar.
Nem mesmo para ler provérbio no Facebook eu tenho mais foco. Os 140 caracteres do Twitter então, são "Cem Anos de Solidão". Rever um filme do Bergman hoje em dia equivaleria aos 27 anos passados por Mandela em Robben Island. Mas o problema maior não sou eu.
Sejamos sinceros. Eu já estou no ponto para moer e servir de ração para peixinho dourado. E já me dispus a mandar às favas Facebook, Instagram e Twitter. Reconheço que estou passando dos limites. Rede social e fissura em iPhone, depois da coluna do Contardo só na eventualidade de algum assunto de interesse maior, como um ataque de tarântulas censoras ao STF.
A questão maior é como domar a testosterona dessa geração de garotos que passam o dia enfurnados no quarto com o nariz grudado na tela. Quando são obrigados a lidar com a vida real, em um mundo em que figura paterna e materna estão cada vez mais bagunçadas, eles estão sem saber distinguir entre real e virtual.
Nesta semana, ouvi relatos apavorados de uma testemunha sobre um jovem que trafegava pela zona sul sobre a caçamba de uma pick-up desferindo golpes em motoboys com taco de beisebol. Na cabeça. O camarada parecia estar se divertindo muito. Claro, assim como a distinção entre sexo virtual e sexo na vida real, o GTA (Grand Theft Auto) de verdade deve ser bem mais emocionante do que o jogo.
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