O GLOBO - 18/10
Autoridades do ensino — nem todas, certamente — sofrem de um mal incurável: o desrespeito por esse patrimônio nacional que é o idioma que falamos e escrevemos
O Exame Nacional do Ensino Médio é, obviamente, instrumento indispensável para a avaliação da qualidade da educação no Brasil. Mais importante do que ele só pode ser o registro do avanço na alfabetização do nosso povo. Principalmente daqueles condenados, pelo berço, a não passarem das primeiras letras.
Mas, mesmo que o avanço no estabelecimento de relações saudáveis entre o ABC e a maioria dos brasileiros, no sertão e nas favelas, mostre índices animadores, é preciso, obviamente, ficarmos de olho no progresso do ensino médio. Simplesmente porque é dele que depende, em larga escala, o progresso do país. Talvez tanto, ou até mais, do que a qualidade do ensino universitário, inevitavelmente concentrado, quase todo ele, nos estados mais ricos.
As notícias mais recentes sobre o problema não são animadoras. O Exame Nacional do Ensino Médio do ano passado foi denunciado, por muitos professores — bons professores, evidentemente — por erros graves nos textos: candidatos que atropelaram sem dó o idioma conseguiram nota máxima. O próprio ministro da Educação, Aloízio Mercadante, prometeu que desta vez as provas serão — como sempre deveria ser — corrigidas severamente.
Em países que tratam a educação com o devido respeito, os professores que se revelarem incompetentes numa tarefa tão simples como a correção de provas do Ensino Médio serão reavaliados a propósito de sua competência para dar aulas.
Aqui, ocorre o fenômeno oposto. Em 2012, as normas para a correção das provas determinavam que erros na concordância dos verbos — um problema grave, certamente — “excluem a redação da pontuação mais alta”. Nas regras para 2013, essa exclusão não existe. Na verdade, não há qualquer referência aos erros de concordância. E ainda foi acrescentada uma colher de chá que não consegui entender: chama atenção para a existência do acento em “espanhóis”. Há algum tempo, uma reportagem do GLOBO registrou que provas do Enem com erros grosseiros, como “enchergar”, “rasoavel” e “trousse”, receberam nota máxima.
Pelo visto, as autoridades do ensino — nem todas, certamente — sofrem de um mal incurável: o desrespeito por esse patrimônio nacional que é o idioma que falamos e escrevemos. Não é grande exagero dizer que se trata de um crime de lesa-pátria.
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