O GLOBO - 19/09
Foi o próprio Fed quem fez a confusão e provocou a volatilidade do dólar e ontem tirou o bode da sala, ao dizer que os estímulos monetários não começarão a ser reduzidos agora. Isso fez a moeda americana cair no mundo inteiro. O bom é que diminui a pressão inflacionária no Brasil e a tensão sobre a Petrobras. A perda da empresa continua, mas ficou mais leve.
O dólar começou o ano valendo R$ 2,04 e chegou a ser cotado abaixo de R$ 2 em fevereiro e março. Depois, reverteu a tendência e disparou para R$ 2,44, em agosto, no meio do movimento especulativo em torno da retirada dos estímulos. Ontem, fechou em R$ 2,19. Após o sobe e desce, a moeda ainda acumula desvalorização de 7,3% desde janeiro.
Na entrevista concedida ontem após a reunião, o presidente do Fed, Ben Bernanke, alegou que ainda não está clara a extensão das medidas fiscais restritivas e elas podem criar riscos adicionais para o mercado financeiro e para a economia.
Estava se referindo ao fato de que o impasse político americano tem levado o governo a fazer cortes no orçamento porque o Congresso está ameaçando não elevar o teto da dívida. Nada disso era imprevisível, pelo contrário. O Congresso americano tem empurrado o presidente Obama para a beira do precipício a cada momento que ele pede uma elevação do teto. Caso não seja concedido, ele terá que fazer novos cortes de gastos.
Portanto, a economia mundial poderia ter passado sem essa volatilidade no mercado de moedas, que provoca efeitos concretos nas economias, como vimos aqui no Brasil.
A especulação em torno do começo do fim dos estímulos foi incentivada pelos próprios integrantes do Comitê de Política Monetária americana, o FOMC, com declarações feitas em vários momentos. Então se criou a convicção de que a injeção de US$85 bilhões por mês começaria a ser reduzida na reunião de ontem. Mas, segundo Bernanke, a economia americana não está suficientemente forte e ainda é ameaçada por nova crise da dívida.
Ao longo das últimas semanas, vários dados mostraram que a economia americana de fato não está tão bem quanto parecia e a recuperação do emprego ficou abaixo do esperado. Mas o que assustou o Fed foi o fato de que os juros futuros subiram fortemente diante da expectativa de retirada dos estímulos, ainda que em dose homeopática.
O Fed continuará, portanto, recomprando títulos públicos e outros papéis para injetar no mercado R$ 85 bilhões a cada mês, pelo menos até o fim do ano. O mandato de Bernanke está no fim e não se espera uma alteração rápida do quadro econômico dos Estados Unidos. Juros zero por tempo prolongado e essas doses de injeção monetária podem levar a outras distorções, e em algum momento isso será alterado. Mas, por enquanto, nada muda.
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