FOLHA DE SP - 18/09
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff cancelou sua visita aos EUA em outubro. Ela considerou insuficientes as respostas do governo norte-americano sobre o recente caso de espionagem aqui no Brasil.
Em nota oficial, por meio de sua assessoria, Dilma afirmou: "As práticas ilegais de interceptação das comunicações e dados de cidadãos, empresas e membros do governo brasileiro constituem fato grave, atentatório à soberania nacional e aos direitos individuais, e incompatíveis com a convivência democrática entre países amigos".
Dilma acertou ou errou? O acerto supera em muito os eventuais reparos que possam ser listados.
Parece óbvio que mais dados sobre a espionagem dos EUA no Brasil podem ser revelados a qualquer momento. Inclusive em outubro, se a visita da presidente a Washington fosse mantida. Seria um constrangimento para Dilma, ao lado de Barack Obama, responder a perguntas sobre esse tema na tradicional entrevista conjunta realizada na Casa Branca.
Do ponto de vista da política interna, a presidente reforça a imagem de durona, um traço de comportamento que já a ajudou na eleição em 2010. Até onde a vista alcança, nenhum governante brasileiro recusou-se em anos recentes a visitar Washington.
Qual seria então o reparo a fazer? Numa situação em que os EUA sabem que todos sabem o que eles fazem, talvez a diplomacia brasileira pudesse ter buscado alguma compensação objetiva. Por exemplo, construir um apoio explícito para uma vaga permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU.
Mas esperar eficiência do Itamaraty seria um pouco demais. Nessa conjuntura, Dilma tomou o único caminho possível e cancelou sua viagem.
Esse episódio é um bálsamo para a petista. Ao combater um "inimigo" externo, ela veste o figurino de estadista. Nada mais útil para quem deseja a reeleição em 2014. Em política, sorte às vezes é fundamental.
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