FOLHA DE SP - 18/09
Inflação de 2013 pode até ficar décimos menor que a de 2012, mas no dia a dia isso não importa muito
QUEM SE dispõe a fazer pesquisa econômica em feiras e supermercados voltou a ouvir conversas de inflação nos corredores e nas filas dos caixas faz alguns anos, em particular neste 2013.
A inflação deste ano pode ficar em 5,8%, um tico abaixo da de 2012, embora possa ir até 6,2%, segundo os mais pessimistas, que já dão como certo algum aumento da gasolina até o Natal. A percepção da inflação, porém, parece ser outra, e não se ocupa desses décimos discutidos por economistas.
A memória desse tipo de pesquisa "o povo fala" obviamente não é lá muito boa, para nem falar da qualidade da amostra, mas a falação sobre preços parecia ter arrefecido entre 2003, o último grande surto de alta, e 2008, quando o boom de commodities (preços de recursos naturais) estava no auge.
Uma olhada nos números do IPCA, a inflação "oficial" dos preços ao consumidor no Brasil, confirma a impressão.
O preço da comida ("alimentação e bebidas") subiu em média cerca de 4,5% ao ano entre 2004 e 2007. De 2010 para cá, aumentou mais de 9% ao ano. Preços de alimentos e bebidas decerto não determinam toda a inflação média, mas são os que têm impacto mais imediato, constante, visível e inevitável no bolso do cidadão comum.
Nunca é demais relembrar a história da inflação do tomate, metáfora (ou metonímia?) para a inflação da comida deste ano, que chegou a subir 14% (na taxa acumulada nos 12 meses até abril).
A inflação de comida & bebida caiu para 10,5% nos doze meses até agosto, mas está com cara de aumentar até o fim do ano, dados os problemas com a safra de soja lá fora, o problema com o dólar etc. Os preços no atacado neste início de mês deram saltos feios. Devem aparecer nos preços ao consumidor de outubro.
A inflação média, geral, porém, não deixou por menos, dada a sua constância altista: 6% ao ano, em média, desde 2010. Para um país que já conviveu regularmente com 30% AO MÊS, parece ninharia. Só que não.
Para começar com uma conversa que não é de fila de caixa de mercado, trata-se de uma inflação muito maior que a de nossos parceiros comerciais mais ricos (e importantes), como EUA e Europa, que desde 2008 flertam com deflação. Nossos custos aumentam, nossos produtos perdem competitividade, o de sempre.
Além disso, a persistência altista pode criar memória ruim: todo mundo dar de barato que a inflação normal é de 6%, o que complica ainda mais a tarefa de fazer os preços se comportarem. A gente já ouve pessoas falando de novo em compras do mês, um clássico do Brasil hiperinflacionário.
Na ponta do lápis, até vale a pena estocar a despensa, embora pouco. Basta pensar na alta dos preços de comida & bebida, ora em 10% ao ano, bem superior à do rendimento de poupança e fundos de investimentos populares. Vale mais a pena investir em sacos de grãos do que na caderneta.
A irritação com a carestia tem subido, provavelmente, também devido à desaceleração da alta do salário. Mesmo que a inflação estacione em torno de 6% em 2013, a renda tem crescido e vai crescer mais devagar. A inflação talvez não supere os 5,84% de 2012, ficando em, digamos, 5,81%, para a satisfação de governo e BC. Mas o povo não parece estar ligando para os três décimos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário