FOLHA DE SP - 16/09
RIO DE JANEIRO - Em sua biografia de Manuel Antonio de Almeida, de 1943, Marques Rebelo observou que o Rio, pródigo em ruas Dona Maria, Dona Mariana e Dona Zulmira, ainda não concedera nem um beco para Maneco (1831-1861), autor de "Memórias de um Sargento de Milícias", de 1854. Normal, eu diria, numa cidade em que o repolhudo Graça Aranha ganhou uma avenida no centro; Machado de Assis, um simples quarteirão no Catete; e João do Rio, uma rua em Botafogo, mas com seu nome verdadeiro, Paulo Barreto, que poucos sabem quem foi.
Graças talvez a Marques, o Rio se reabilitou em relação a Manuel Antonio de Almeida em 1959, dando-lhe uma praça no bairro da Saúde, adjacente à praça Mauá e à rua Américo Rangel, bem no início da Sacadura Cabral. Por acaso ou não, a apenas oito quarteirões da rua do Propósito, na Gamboa, onde Maneco nasceu.
Outro dia, ao visitar o magnífico MAR (Museu de Arte do Rio), resolvi atravessar a rua e conhecer a praça Manuel Antonio de Almeida. Mas ela não estava mais lá. Em seu lugar, um canteiro de obras do Porto Maravilha, cercado por um tapume.
Pelos últimos 30 anos, entusiasmei-me com vários projetos de revitalização da zona portuária do Rio, apenas para constatar, decepcionado, que nada saía do papel. Mas a que está em curso é para valer. As obras estão à vista em toda a região, no que pode ser uma nova abertura dos portos para o Rio, como a de 1808.
Neste momento, Manuel Antonio de Almeida está soterrado por galpões, guindastes, contêineres, andaimes e entulho. Mas estou confiante de que, concluída a obra, os técnicos do Patrimônio e dos sítios históricos do Rio lhe devolverão a praça e, finalmente, farão justiça a quem, com a obra-prima "Memórias de um Sargento de Milícias", inaugurou o realismo na literatura brasileira e nos deu a nossa primeira arqueologia urbana.
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