O GLOBO - 27/08
Estamos importando médicos. É uma situação curiosa. No comércio internacional, os países importam o que não têm e equilibram o mercado, ou tentam fazê-lo, vendendo o que produzem em casa.
Contratar médicos lá fora mostra uma de duas situações: ou a profissão não atrai número suficiente de jovens, ou o ensino da medicina por aqui não tem qualidade ou quantidade suficiente para a demanda. Não há informações oficiais a respeito. Mas a extensão do território aponta para a segunda hipótese. E também a boa reputação da maioria das escolas – pelo menos nos estados mais prósperos.
Inteligentemente, o projeto de importação foi batizado como "Mais médicos" – e não, o que seria uma ofensa aos profissionais brasileiros, "Melhores médicos". Seja como for, o programa é o reconhecimento de um déficit, cujas causas não foram anunciadas, mas não podem deixar de incluir a inexistência de um programa oficial de estímulo à uma profissão de grande importância para qualquer país.
Não foi anunciado se o déficit de médicos no Brasil é um fenômeno histórico, só agora reconhecido pelo poder público, ou consequência de um desinteresse recente pela profissão, por motivos não identificados ou não revelados. Não se deve excluir a hipótese de que a carência de médicos foi provocada pelo aumento da população em áreas do interior – na Amazônia, por exemplo. Nesse caso, certamente há déficit de outros profissionais. Como professores, dentistas e outros.
A recepção da primeira leva de médicos importados foi cuidadosamente preparada. Houve, inclusive, um esquema especial para afastá-los da imprensa. O que não se compreende, a não ser pela necessidade, por parte das autoridades brasileiras, de evitar perguntas embaraçosas. O que sugere que a mídia nativa continue a se preocupar com os motivos da importação de profissionais por um país que dispõem de escolas de medicina de bom nível e nenhum problema para construir outras.
Seja como for, sejamos otimistas. Ter mais médicos é sempre bom, principalmente num país com as dimensões do Brasil. Foi uma boa idéia importá-los de países sem grandes problemas de idioma, como Portugal, Argentina, Espanha e Uruguai. Mas também há russos no grupo. Podem ser profissionais excepcionais – mas a barreira do idioma vai dar um trabalhão
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