GAZETA DO POVO - PR - 27/08
A manipulação recorrente dos dados sobre a política fiscal, ajudada pelos demais indicadores ruins, está jogando no lixo a credibilidade da contabilidade pública e das informações econômicas do Brasil
Para um país do tamanho do Brasil, com população se aproximando dos 200 milhões de habitantes, o crescimento da economia e o desenvolvimento dependem, em larga medida, da inserção internacional, da capacidade de atrair investimentos estrangeiros e da absorção das inovações tecnológicas mundiais. Para isso, é preciso expandir seu comércio exterior e conquistar a confiança dos agentes econômicos internacionais.
A conquista da confiança externa depende de estabilidade política interna e de sólidos fundamentos macroeconômicos, coisas que, por sua vez, dependem de um governo competente, reconhecido no resto do mundo como adepto de políticas de abertura e respeito às regras de boa condução da economia. A solidez dos fundamentos econômicos começa com controle da inflação, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), equilíbrio das contas públicas, respeito aos contratos juridicamente válidos e transparência das informações e dos indicadores.
O Brasil demorou para obter a confiança dos agentes econômicos externos e ser visto como um país seguro para negócios e investimentos. Faz poucos anos que as agências de classificação de risco atribuíram ao país a condição de “grau de investimento”, classificação que estimula os investidores mundiais a enviar seus capitais financeiros para abertura de empresas e compra de ativos financeiros brasileiros.
Com o sucesso no combate à inflação obtido após o Plano Real, implantado em 1994, o prosseguimento que Lula deu à política econômica de Fernando Henrique e a melhoria substancial de suas contas externas, a confiança internacional em relação ao Brasil cresceu e favoreceu o crescimento da economia nacional. Assim que assumiu o governo, a presidente Dilma passou a impressão de que seguiria a mesma cartilha e, assim, estaria garantida a continuação da boa vontade do mundo para com a economia brasileira. Entre suas promessas estavam o rigor nos gastos públicos, a transparência e o combate à corrupção.
Entretanto, o que se tem visto nos últimos meses é a corrosão acelerada da confiança internacional no Brasil. A insistência da inflação em ficar próxima ao teto superior da meta – que é de 6,5% ao ano –, o aumento dos gastos correntes do governo, a redução do superávit primário, a baixa taxa de investimento público na infraestrutura, o pífio crescimento do PIB nos últimos dois anos, a piora na balança comercial do país e o represamento dos preços dos combustíveis são alguns dos elementos responsáveis pelo desânimo dos agentes internacionais em relação ao Brasil.
Há algumas semanas, quando a agência de risco Standard&Poor’s (S&P) anunciou que havia colocado a nota do Brasil em perspectiva negativa, vozes do governo se levantaram para criticar a atitude da agência e dizer que o país continua sendo um lugar seguro para investimentos estrangeiros. Infelizmente, as autoridades não tiveram a honestidade de reconhecer que o governo contribuiu para piorar as coisas quando o Ministério da Fazenda manipulou pela terceira vez a contabilidade pública, lançando dúvidas em relação à veracidade das informações.
O ministro Guido Mantega tornou-se personagem desacreditado no mundo e sua demissão chegou a ser sugerida pela prestigiada revista The Economist, que comparou o mau comportamento brasileiro às práticas da Argentina e da Venezuela, países cujas estatísticas oficiais não são mais publicadas por aquela revista, por serem consideradas falsas e manipuladas pelo governo.
A manipulação recorrente dos dados sobre a política fiscal, ajudada pelos demais indicadores ruins, está jogando no lixo a credibilidade da contabilidade pública e das informações econômicas do país. Talvez os governantes brasileiros acabem aprendendo pelo pior caminho que comportamentos supostamente aceitáveis aqui dentro são considerados deploráveis e inaceitáveis pela cultura internacional.
A fuga dos investidores estrangeiros e a saída de dólares do Brasil, numa inversão do fluxo de entrada de moeda estrangeira, são apenas alguns dos sintomas de tantos desacertos. Nesse sentido, a presidente Dilma está causando certa decepção, pois, embora ela não tenha sido brindada, como Lula, pelos bons ventos da economia mundial, esperava-se que sua administração não viesse a contribuir para piorar a situação.
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