FOLHA DE SP - 27/08
SÃO PAULO - As reações destemperadas de órgãos e conselhos médicos à vinda dos cubanos quase dão razão ao governo brasileiro. Quase.
O ponto alto do desvario corporativo foi o presidente do CRM mineiro afirmando que orientaria os médicos das Alterosas a não atender eventuais erros cometidos pelos cubanos --o que dá bem a medida da conta em que o CRM-MG tem o paciente.
O governo, porém, não fica muito melhor na foto. A ideia de levar médicos às áreas desassistidas é correta. Melhor ainda se levasse também a estrutura para fazer boa medicina, mas, como sabemos que isso não acontecerá tão cedo, que haja ao menos um profissional capaz de tratar diarreias, infecções e verminoses.
Como essas doenças têm alta prevalência nas áreas remotas e são relativamente fáceis de diagnosticar, é improvável que os cubanos, mesmo que tenham menor preparo técnico que os brasileiros, como dizem os conselhos, matem mais pessoas por iatrogenias variadas do que salvem.
O argumento de que é errado os cubanos receberem bem menos do que seus colegas brasileiros para fazer a mesma coisa tem certo apelo. É incômodo ver o governo brasileiro se desdobrando para ajudar financeiramente uma ditadura. Mas diferenças no pagamento de médicos não são novidade. Quem entrar num hospital paulista vai se deparar com muitas camadas arqueológicas de médicos, atuando sob variados regimes e remunerações. Há estatutários, celetistas concursados, celetistas em contrato de emergência, profissionais vinculados a OSs etc. É estranho que as diferenças só mobilizem conselhos e procuradores agora.
O que é imperdoável mesmo é a declaração da AGU de que, se algum cubano requisitar asilo ao Brasil, terá seu pedido negado. Fazer negócios com ditaduras é uma coisa. Até a mais ética das democracias comercia com China, Arábia Saudita etc. Mas atuar como carcereiro para os irmãos Castro vai muito além da conta.
Um comentário:
Dr. Hélio, seu "olhos" têm uma perspicácia superior. Diante disto: Qual o real objetivo da vinda dos médicos cubanos?
É para quebrar (do que resta!) o "corporativismo" na área médica?
Ou é um "bode na sala"?
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