O ESTADÃO - 18/08
Economistas, empresários e trabalhadores que criticam a gestão econômica do governo Dilma Rousseff podem acusá-la de tudo, menos de omissão. Atenta ao momento imediato e desatenta com o futuro, a presidente não dá sossego à equipe econômica que a assessora: surge um problema, lá vai o ministro da Fazenda ao Palácio do Planalto ouvir broncas e cobranças. Guido Mantega volta ao gabinete, repassa o que ouviu aos subordinados e cobra providências. Aí, dos gabinetes ministeriais brotam medidas, anunciadas ao País como o sacrossanto remédio para resolver o dilema. Não resolvem, no máximo o amenizam por pouco tempo, e até criam outros problemas piores. O governo recua, mas não desiste de interferir, segue gerando outras soluções que reproduzem mais e mais problemas. Hoje a economia está infestada de artifícios, nós que não desatam facilmente, desperdícios de dinheiro público que poderiam ser evitados. O próximo presidente, ainda que seja ela própria, terá de desarmar essas armadilhas para governar em paz, dar eficácia e agilidade à gestão econômica e buscar melhores resultados para o crescimento e desenvolvimento do País.
Entre avanços e recuos, apostas erradas que deixaram sequelas na economia, enumero aqui alguns exemplos:
• Renúncia fiscal - a isenção tributária para automóveis, eletrodomésticos e outros produtos premiados estimulou a produção, mas só em 2013 e 20140 Tesouro vai deixar de arrecadar R$ 163 bilhões, que poderiam muito bem suprir carências sociais. Além disso, os setores industriais alijados do favor fiscal tiveram suas vendas prejudicadas porque o consumidor desviou seus gastos para automóveis, etc. O governo recuou e retirou o incentivo para alguns setores, mas manteve para outros.
• Campeões nacionais - como o general Geisel, Dilma também acreditou ter poder de dar à luz grandes multinacionais brasileiras e, com elas, derrotar na concorrência poderosos grupos estrangeiros. Bilhões de reais jorraram do BNDES para essas empresas. O objetivo fracassou e, para não levar calote, o BNDES tornou-se sócio da maioria delas. Há meses o presidente do Banco, Luciano Coutinho, anunciou o encerramento do programa de crédito aos campeões nacionais.
• Contabilidade criativa - na verdade, são truques que não conseguem enganar ninguém e transformam dívidas em receitas para o governo cumprir sua meta de superávit primário. Desmoralizada e bombardeada por críticas, a trapaça contribuiu para minar a confiança de investidores 110 governo. Empenhado em reconquistar a confiança perdida, o governo vacila em usar o artifício em 20x3.
• Tarifa de luz - foi boa a intenção de reduzir a tarifa de eletricidade, mas a condução, a concepção e a aplicação das medidas resultaram em enorme desastre. A conta de luz encolheu, mas o consumidor pagou o que economizou em outra conta - até mais salgada porque o Tesouro está bancando R$ 17 bilhões dos custos da queda de tarifa. E quem banca o Tesouro são todos os brasileiros que pagam impostos. No setor elétrico, há erros primários: há mais de um ano 19 usinas eólicas não funcionam porque faltam linhas de transmissão; e grave falha de planejamento - descoberta em 2010, até hoje sem solução e escondida da população - ameaça queimar as Usinas de Santo Antônio e Jirau, do Rio Madeira. E por aí vai,..
• Privatização - foi 110 que o governo Dilma mais errou e sofreu derrotas. Seja por oportunismo político ou convicção ideológica, Dilma resistiu, demorou a aceitar a ideia de privatizar serviços públicos. Porém, dois anos de crescimento econômico ridículo, paralisia de investimentos em infraestrutura, escassez de dinheiro e ineficiência do governo em fazer andar projetos levaram a presidente a recuar. Ela criou o Programa de Investimento em Logística (PIL), que acaba de completar um ano sem realizar um único leilão. Estradas, ferrovias, portos, aeroportos e o trem-bala têm anúncios ambiciosos, marketing caprichado, mas de concreto, ainda nada.
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