FOLHA DE SP - 31/07
BRASÍLIA - Entre tantas trincheiras abertas para 2014, uma em especial chama a atenção: a do Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral do país.
Após anos de gestões divididas e fracassadas, 2013 parecia coroar a dobradinha Sérgio Cabral-Eduardo Paes, história de sucessos de marketing: o Rio voltara à sua fantasia imagética de ser o coração espiritual do país, Olimpíada, final de Copa, o aparente sucesso das UPPs. Até Eike Batista virou patrimônio emocional.
Deu no que deu. Escândalos que vão da relação do governador com empreiteiro enrolado ao uso de helicópteros, caos logístico na Copa das Confederações e na visita do papa, manifestações infindáveis, violência perene --e mesmo Eike em apuros.
Cabral, perdoado pela classe média mesmo quando chamou favelado de "otário", teve de, algo pateticamente, apelar ao instinto paterno de manifestantes impúberes para pedir a desocupação de sua rua.
Paes sofre por tabela e protagonizou nada menos do que uma agressão a um cidadão neste ano, mas Cabral ainda é o alvo. De ativo do PMDB, ele agora é um pato a manquitolar, exceto que tire da cartola alguma agenda positiva de fato eficaz. Se já enfrentava a canibalização da candidatura de seu vice em 2014 pelo PT, o processo será dramático.
A oposição tradicional nada ganha. O tucano Aécio Neves contava com algo entre apoio tácito e defecção do amigo Cabral. Agora, terá de apresentar escusas e distanciar-se.
Marina Silva, por sua vez, já demonstrara potencial no Estado, em especial na parte "cenário de novela" do Rio. Ao encenar um "one-woman show", sem palanques fortes, ao menos neste caso ela pode lucrar.
A tragédia da adutora ontem ganha caráter simbólico. Enfim, o governador foi ter com as vítimas, talvez seguindo a "humildade" que diz ter aprendido com Francisco. Pelo que contam os moradores, contudo, Cabral (Paes a tiracolo) ainda não pode andar com vidro aberto, como o papa.
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