O GLOBO - 31/07
Em 1996, com uma equipe da Rede Globo e um relatório de IDH do Brasil nas mãos, feito pelo PNUD e Ipea, viajei durante um mês pelo país. Voltei com uma série de reportagens para o Jornal Nacional: Caminhos do Brasil. Foi quando entendi que a melhor comparação do país é com alguém que está no meio de uma travessia, que superou obstáculos e tem muito ainda até o seu objetivo final.
Ainda é assim. O meio do caminho é longo. O avanço nas últimas duas décadas merece ser louvado e tem números animadores, como o de nove anos de aumento da expectativa de vida entre 1991 e 2010. Mas é bom lembrar alguns pontos: os países não estão parados, enquanto tiramos o nosso atraso. Há progresso em vários desses indicadores no mundo. Outro detalhe é que o IDHM, sobre os municípios brasileiros, não é comparável com o IDH do mundo. O divulgado agora é um olhar para dentro do Brasil; o outro é um ranking mundial. Mesmo assim, sabemos que há países economicamente mais fracos que o Brasil e que, ainda assim, têm números melhores.
O IDH nos ensinou uma forma melhor de entender o desenvolvimento. Em vez de apenas o número objetivo e descarnado do PIB, um indicador que tenta captar a qualidade de vida. Mesmo assim, precisa de muitos aperfeiçoamentos. Hoje, o que se discute no mundo é como o dado de educação pode espelhar mais a qualidade do ensino, em vez de medir apenas os números de cumprimento de séries. Exemplo: se tem um peso maior a criança e o adolescente no ano certo da escola, a aprovação automática não geraria uma distorção? Há também desejo de que se incluam índices de sustentabilidade. O indicador também cumpre sua trajetória para se tornar um termômetro melhor.
Com tudo isso, o Brasil avançou: aumentou a expectativa de vida, reduziu a mortalidade infantil, elevou a renda, melhorou a educação, reduziu sua oceânica desigualdade. Mas, quem enfrenta os gargalos da vida urbana, falhas da saúde pública, ensino deficiente, índices deprimentes de saneamento básico tem dificuldade de considerar que o Brasil é hoje um país em que a maioria dos municípios está classificada como de "alto desenvolvimento humano". A realidade diária, nós a conhecemos bem.
Quando saí para a reportagem em 1996 - uma experiência marcante, de inesgotáveis lições - sabia que precisava ser capaz de ver avanços, atrasos, contrastes. Hoje, de novo, é isso que se pode ver nesse relatório. A desigualdade caiu, mas permanece enorme. O aumento da escolarização do ensino fundamental é inegável, mas o gargalo do ensino médio continua sufocando a juventude. Comparado com os números de anos atrás, o Brasil avançou. Confrontado com o que precisa fazer para superar o atraso histórico na área educacional, é ainda muito pouco.
Os números que saem de um relatório como este servem pouco se forem entendidos apenas como uma competição entre cidades que estão entre a melhor, São Caetano do Sul, em São Paulo, e a pior, Melgaço, no Pará. Os dados têm que servir para orientar as políticas públicas e replicar experiências bem sucedidas.
Não é hora ainda de comemorações, nem de distribuição de Oscar para ator principal ou coadjuvante. O avanço foi um trabalho coletivo executado na democracia, em que governantes são mais permeáveis à pressão da opinião pública. É curioso como dois governos de partidos adversários no cenário político executaram uma tarefa complementar para compor a parte boa dessa história.
Os dados devem nos servir como um estímulo nesse meio do caminho. Se até aqui conseguimos conquistas, poderemos continuar nossa trajetória em busca do que queremos. Vai ser mais fácil se o Brasil souber exatamente quais são seus objetivos.
Um comentário:
Pois é...
Em 2002, iludido por propaganda enganosa, o eleitor brasileiro, em sua maioria, escolheu Lula. Em 2006, confirmou essa escolha e, em 2010, ainda iludido, triplicou a aposta escolhendo Dilma Rousseff.
No entanto, em cada oportunidade, uma avaliação objetiva e rigorosa teria indicado outro caminho. Como esperar um bom resultado quando se entrega o governo de um país tão complexo como o Brasil a pessoas tão despreparadas e inexperientes?
A partir de agora, o que deverá ser corrigido, somado ao que deverá ser criado, exigirá enorme competência e, sobretudo, liderança e honestidade.
Que tal, em 2014, corrigir nosso rumo?
Que tal, dessa vez, escolher um líder comprovado que já demonstrou sua capacidade para enfrentar e superar enormes desafios: externos, internos, políticos e econômicos?
Que tal garantir-lhe uma vitória consagradora que permita dispensar alianças espúrias?
Que tal escolher Fernando Henrique Cardoso e começar, desde já, a trabalhar com afinco para elegê-lo?
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