FOLHA DE SP - 24/06
SÃO PAULO - Poucos meses atrás, parecia que a reeleição da presidente Dilma Rousseff seria um passeio. Sua popularidade estava nas alturas. Sua equipe dizia que bastava esperar um pouco para que as medidas de estímulo econômico adotadas dessem resultado. A oposição ao governo parecia desprezível.
Nas últimas semanas, duas novidades bagunçaram o coreto armado para a campanha oficial. Primeiro, a volta da inflação e o fracasso das tentativas de reanimar a economia azedaram o humor da população. O pessimismo aumentou, assim como a falta de confiança na capacidade da presidente de fazer a economia voltar a crescer com vigor.
Dilma promoveu então uma guinada em sua política econômica. O Banco Central voltou a subir os juros para segurar os preços. Barreiras impostas à entrada de investidores estrangeiros foram removidas para trazê-los de volta. Seu desacreditado ministro da Fazenda até voltou a falar em responsabilidade fiscal.
Em seguida, o inconformismo explodiu nas ruas com força avassaladora. Pela primeira vez desde sua chegada ao poder, de repente os petistas se viram diante de um movimento de contestação à ordem que não conseguem controlar, num ambiente em que se revelam inadequados os instrumentos de cooptação empregados nos últimos anos para aplacar tensões sociais.
Na sexta-feira, a presidente respondeu com um pronunciamento em cadeia de televisão. Disse compreender as razões da inquietação, anunciou que chamará os líderes da garotada para conversar e propôs um pacto em que políticos e manifestantes se uniriam sob sua liderança para fazer avançar a agenda do governo.
É uma aposta muito arriscada para uma presidente com popularidade em queda, e que enfrenta dificuldades de todo tipo sempre que tenta aprovar alguma coisa no Congresso. Os próximos dias dirão se o apelo será atendido, ou se Dilma terá que procurar outra saída para a crise.
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