FOLHA DE SP - 12/06
Freud disse, cem anos atrás, que não existe observador neutro, totalmente imparcial. Os filósofos de botequim e a ciência moderna falam o mesmo. Somos todos tendenciosos. Galvão Bueno, mais que os outros. Costumamos pensar, analisar e agir de acordo com nossos pré-conceitos, preferências e conhecimentos, às vezes, sem perceber.
O jornalista esportivo, diante das incertezas do futebol, corre atrás de fatos e explicações que justifiquem e aprovem suas opiniões. Torce por suas ideias. "Não falei", costuma dizer o orgulhoso comentarista de televisão, durante as partidas. Quando os fatos contrariam suas opiniões, diz que o futebol é uma caixinha de surpresas.
Hernanes é um bom jogador, uma opção nas posições de volante e de terceiro no meio-campo, como atuou contra a França, junto com Paulinho e Fernando. Mas dizer que o time melhorou, após a entrada de Hernanes, quando a França estava desfigurada e sem marcar ninguém, é uma opinião tendenciosa e/ou de quem não percebe as mudanças durante as partidas. Uma coisa é entrar no início, e outra, nessa situação.
Apesar da claríssima falta cometida por Luiz Gustavo, detalhe (acaso) que mudou a história do jogo, o primeiro gol só saiu porque o volante brasileiro pressionou para desarmar no campo da França, como foi bastante treinado.
Hulk, mais uma vez, foi o mais eficiente dos quatro jogadores mais adiantados. Quando erra, é chamado de grosso. Há também uma insistência em rotular Lucas de craque. Não é. É um bom jogador, coadjuvante no Paris Saint-Germain.
Marcelo foi o melhor atacante, o que criou mais chances de gol. Como dizia o saudoso mestre Armando Nogueira, "quem ataca é atacante". Sua atuação foi facilitada por Valbuena, que ia para o centro e deixava Marcelo livre para receber a bola. Mesmo assim, o treinador Deschamps não fez nada para corrigir o erro.
Escrevi, domingo, que Alex, se jogasse hoje, como fazia quando era jovem, seria titular da seleção. O mesmo serve para Zé Roberto, de volante, posição que atuou na Copa de 2006, quando foi escolhido para a seleção do Mundial. Mas não há nenhum motivo para os dois serem hoje convocados. Seria o mesmo se a Holanda chamasse Seedorf. Não dá mais para a seleção. O tempo passou. Como diz a letra de um tango, "não é o tempo que passa; nós é que passamos e não enxergamos o presente".
Aumentaram as esperanças com a seleção e, paradoxalmente, cresceram as preocupações com Neymar, que, se evoluísse, seria o principal responsável pela melhoria do time. Atuou, mais uma vez, como um jogador comum. Receio que a precoce celebridade o tenha perturbado, o colocado em um dilema shakespeariano, entre driblar e passar, entre fazer um gol de placa e jogar coletivamente, entre ser ou não ser um fenômeno.
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