FOLHA DE SP - 17/05
Provocaram celeuma as considerações da ex-ministra Marina Silva a respeito da presença do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
O parlamentar, que é também pastor evangélico, tornou-se o foco de protestos por suas opiniões sobre negros (vítimas, segundo ele, de maldição bíblica) e homossexuais (em cujos afetos vê sinais de "podridão"). Não é bem o que se espera do encarregado de encaminhar projetos sobre direitos humanos na chefia daquela comissão.
Em evento na Universidade Católica de Pernambuco, Marina não se afastou dessa linha de raciocínio. Considerou Marco Feliciano despreparado para o cargo que ocupa e merecedor de críticas pelas opiniões homofóbicas e racistas.
Tivesse ela se limitado a isso, o caso não teria maior repercussão. Marina teve a má ideia, porém, de acrescentar uma interpretação para os protestos contra Feliciano que soaram como uma defesa do deputado. Criticam-no, disse, "por ser evangélico, e não por suas posições políticas equivocadas".
Do mesmo modo, arrazoou a líder ambiental, não seria correto criticar atitudes do senador Blairo Maggi (PR-MT) por ser ele empresário, mas pelo que possam significar de prejudicial à natureza.
Sem dúvida, o preconceito contra evangélicos (e contra empresários) existe, e Marina Silva não estaria errada ao denunciá-lo. Mas o deputado não é criticado por ser evangélico. É atacado pelas opiniões que enunciou.
Diga-se que Marina Silva, ela própria evangélica, conta com simpatias fortes nos setores da classe média universitária favoráveis ao casamento gay, sem que sua fé tenha sido questionada. Como faz quase todo político, seja qual for seu credo, partido ou orientação sexual, Marina acusou a imprensa de distorcer suas declarações.
Ocorre que a ex-senadora, em sua expectativa de candidatar-se à Presidência, conta com bases eleitorais bastante heterogêneas. Setores moralistas e conservadores podem votar em Marina "porque ela é evangélica", enquanto ativistas ambientais e parte da esquerda desiludida com Lula e o PT a apoiam por suas convicções.
Crença religiosa e pós-modernidade, povos da floresta e tribos universitárias se equilibram no imaginário marinista. Vez por outra, a contradição faz o delicado arranjo desabar --e nada pior que varrer os cacos para baixo do tapete.
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