O GLOBO - 17/05
A um mês da Copa das Confederações e um ano da Copa do Mundo, os temores em relação à preparação dos estádios para os dois eventos parecem dissipados. A conclusão, dentro do prazo da Fifa, do Itaquerão, em São Paulo, a arena programada para receber o jogo de abertura do Mundial de 2014, ficou encaminhada nos contatos mantidos esta semana entre Jérôme Valcke, secretário-geral da entidade, diretores do Corinthians e representantes do poder público. O Maracanã, onde serão disputadas as finais dos dois torneios, está nos retoques, e as arenas das outras sedes se encontram prontas ou com obras em fase final.
Visto o quadro só pelo ângulo dos palcos dos jogos, o Brasil está cumprindo a agenda acertada com a Fifa. Mas, analisando-se a preparação do país à luz do caderno de encargos, do ponto de vista dos legados — capítulo a princípio inegociável dos compromissos do poder público para sediar a Copa —, o que de maneira geral ficará de testamento do Mundial de 2014 é uma espécie de síndrome do Pan de 2007. Neste caso, é de se lamentar.
Países que sediaram eventos grandiosos como a Copa do Mundo aproveitaram os estímulos extras — econômicos, turísticos, urbanísticos — deles decorrentes para incrementar reformas estruturais nas cidades-sede, em áreas como mobilidade urbana, transportes de massa em particular, sistema viário etc. Mas, a exemplo do que ocorreu no Rio por ocasião dos Jogos Pan-Americanos, as prometidas intervenções do poder público em obras, melhorias urbanísticas e equipamentos deixados pela competição praticamente não saíram do papel — ou saíram nem sempre em harmonia com as demandas dos municípios. Repete-se agora o fenômeno: de maneira geral, as cidades-sede não estão aproveitando este momento particularmente favorável para superar crônicos contenciosos de infraestrutura, ou o estão fazendo em dimensões bem mais acanhadas do que as necessidades pedem.
É compreensível que, após encenar um endurecimento do jogo com os entes envolvidos no projeto Copa, para cobrar ações de melhoria da mobilidade urbana, o secretário-geral Valcke já esteja se dando por resignado com a visível tibieza das intervenções que não sejam diretamente ligadas à qualidade das arenas. O negócio da Fifa é futebol e o que dele pode resultar em lucros para a entidade; melhorias urbanísticas seriam a cereja de um bolo que os municípios estão rebarbando. Não é problema da cartolagem.
Neste quadro, o Rio ainda é um caso à parte. Os projetos em curso não são puxados apenas pela Copa, mas têm grande peso no pacote das Olimpíadas. A maior parte das ações está bem encaminhada e, de resto, a cidade ainda dispõe de tempo para corrigir rumos até 2016. De qualquer forma, em relação ao que parece que vai ficar como real legado da Copa para as demais sedes, as arenas, resta esperar que ao menos venham a ser bem administradas, no que é crucial a participação da iniciativa privada, pois o poder público já deu suficientes mostras de sua incapacidade gerencial.
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