FOLHA DE SP - 17/05
Entre os cientistas sociais, não existe consenso quanto ao que os testes de QI medem de fato
"O quociente intelectual (QI) médio dos imigrantes aos EUA é mais baixo que o da população de raça branca nativa. Essa diferença persistirá durante várias gerações. As consequências são a falta de assimilação socioeconômica entre os imigrantes de baixo QI, condutas de classe baixa, menor confiança social e um aumento no número de trabalhadores não qualificados no mercado de trabalho americano. A seleção de imigrantes de alto QI poderia melhorar esses problemas nos EUA e ao mesmo tempo beneficiaria os imigrantes que são mais inteligentes, mas carecem de educação em seus países de origem."
É esse o resumo da tese de doutorado que Jason Richwine apresentou à Universidade Harvard em 1999 e que foi aprovada sem objeções por um comitê formado por três prestigiosos catedráticos da universidade. A tese fala de imigrantes em geral, mas suas conclusões se baseiam principalmente em uma análise do (baixo) QI dos hispânicos.
Quando o antigo senador Jim DeMint, um dos líderes do Tea Party e indicado recentemente para a presidência da Heritage Foundation, precisou confiar a alguém a tarefa de liderar um estudo para atacar a reforma da política de imigração norte-americana, escolheu Jason Richwine, que escreveria o relatório em companhia de Robert Rector.
Dylan Matthews, jornalista do "Washington Post", encontrou por acaso a tese de Richwine e publicou sua mensagem central. Dois dias mais tarde, Richwine renunciou ao seu posto na Heritage.
Há diversas surpresas em tudo isso, mas a principal talvez se relacione aos padrões que Harvard segue para conferir doutorados. A tese de Richwine supõe que exista relação de causa e efeito entre duas variáveis difíceis de medir: inteligência e etnia. Entre os cientistas sociais, não existe consenso quanto ao que os testes de QI medem.
Medem inteligência ou medem a capacidade de responder bem a esse tipo de teste? E, caso meçam inteligência, de que tipo de inteligência estamos falando?
Mas, se a inteligência é difícil de medir, como medir a categoria que Richwine designou como "hispânicos"? Não se trata de uma categoria biológica, mas de uma definição popularizada pelo Serviço de Recenseamento dos Estados Unidos, que usa "hispânico" ou "latino" para se referir a "uma pessoa de origem cubana, mexicana, porto-riquenha, centro ou sul-americana ou de outra cultura e origem espanhola, independentemente de sua raça".
Mas aqueles que desejam acreditar em estudos baseados em testes de inteligência se interessarão por um artigo publicado pela revista "Psychological Science" em 2012. Uma pesquisa que estudou quase 16 mil pessoas por diversos anos, no Reino Unido, determinou que "os níveis mais baixos de inteligência na infância prognosticam a presença de maior racismo na idade adulta".
Em outras palavras, pessoas racistas quando adultas não se saíam muito bem em testes de inteligência quando crianças.
Em resumo: se você acredita que os hispânicos são burros, precisa acreditar que os racistas também são. Ciência pura.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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