FOLHA DE SP - 17/05
Se o Japão conseguir sair da armadilha da deflação, meu otimismo com a economia mundial ficará reforçado
Os sinais de que a economia americana está deixando para trás a crise em que se encontra desde 2008 são cada vez mais sólidos.
Nesta semana, o COB --órgão do Congresso americano responsável pelo acompanhamento das questões orçamentárias-- publicou um relatório atualizado sobre a situação do deficit fiscal nos Estados Unidos neste primeiro trimestre de 2013.
Sob o impacto de uma nova lei de gastos, aprovada por pressão do Partido Republicano, o desequilíbrio fiscal do governo Obama representa apenas 4% do PIB, contra expectativas anteriores que falavam de algo próximo aos 5,5%. Em 2010, ele chegou a mais de 10%!
E o COB vai mais longe ao prever que, se não houver mudanças na lei atual, o deficit fiscal em 2014 será de apenas 2,6% o PIB.
Ou seja, os Estados Unidos, depois de quase cinco anos de crise, consegue ficar de pé novamente com a volta do crescimento sustentado e da estabilização da dívida pública em cerca de 70% do PIB.
Bem longe do cenário de catástrofe previsto por muitos é um avanço extraordinário que abre espaço para que a maior economia do mundo volte a crescer a taxas superiores a 3% em 2014 e nos anos seguintes.
Para chegarmos a esse cenário rosa falta um último passo: a normalização das condições monetárias no país do Tio Sam, com a esterilização de quase dois trilhões de dólares de excesso de liquidez e a normalização da chamada curva de juros de longo prazo.
Os maiores riscos em relação a esse evento --que no limite pode estragar a festa que todos nós esperamos-- estão ligados ao comportamento especulativo que deve ocorrer nos mercados financeiros do mundo todo quando o FED começar a se mover.
Muitos agentes olham para essa normalização pelo lado dos riscos que podem ocorrer com o aparecimento de um "super dólar" nos mercados de câmbio.
Nessa situação, dizem estes eternos arautos dos desequilíbrios das economias de mercado, os preços das commodities vão derreter e, países como o Brasil, entrarão em crise.
Prefiro considerar o cenário do "super dólar" pelo lado positivo, com a economia americana funcionando como uma alavanca para o resto do mundo, inclusive o Brasil.
Nessa hipótese, o ajuste da economia chinesa, que já está em curso, vai se fortalecer e o fantasma do "hard lending" --aterrissagem forçada-- na segunda maior economia do mundo vai para o armário das catástrofes anunciadas e não acontecidas. Juntas, a primeira e a segunda maiores economias vão dinamizar o comércio internacional e irrigar as economias nacionais em várias regiões.
Vamos entrar em um período de crescimento sustentado, o mundo voltará a viver dias de maior otimismo e ficar longe dos fantasmas que assustaram os mercados nos últimos cinco anos.
Ontem soubemos de mais um dado que reforça este cenário de astros alinhados na economia mundial a partir de 2014.
Como um primeiro resultado da corajosa mudança de rumos na política econômica da agora terceira maior economia do mundo, o PIB do Japão cresceu 3,5% em bases anuais no primeiro trimestre deste ano.
Pela primeira vez em muitos anos, o consumidor japonês abandonou seu comportamento conservador e, estimulado pela alta da Bolsa de Valores de Tóquio e da perspectiva de um "boom" econômico, foi às compras com vigor.
Dos 3,5% de crescimento do PIB no trimestre, 2,4% vieram do consumo das famílias. Se finalmente o Japão conseguir sair da armadilha da deflação e juntar-se aos Estados Unidos e à China, meu otimismo com um novo período de crescimento da economia mundial ficará ainda mais reforçado.
O leitor da Folha pode perguntar nesta altura sobre a Europa, o outro bloco econômico importante no balanço da economia mundial.
Na minha opinião, a Europa é o elo mais frágil nesse cenário de recuperação, pois ainda se encontra paralisada pelos conflitos ideológicos entre o norte e o sul.
E vai ser, no meu cenário, apenas um figurante de menor importância e que se beneficiará do crescimento dos outros países para caminhar para frente.
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