Numa época de elevação dos juros, a atenção em relação às dívidas deve ser ainda maior porque agora o Brasil é um país mais parecido com os outros: o total de dívidas das empresas e das famílias é mais que metade do PIB. O crédito precisava mesmo crescer, mas o temor é sempre com os excessos.
Os empréstimos para consumo estão perdendo força, mas o risco do crédito está concentrado principalmente nos bancos estatais que já respondem hoje por quase metade dos empréstimos concedidos. A pressão do governo sobre os bancos públicos gerou esse número absurdo: Banco do Brasil, Caixa e BNDES e outros bancos estatais ampliaram suas carteiras de crédito em 29% nos últimos 12 meses. Ao mesmo tempo, os bancos privados nacionais emprestaram apenas 6,2% a mais. Os bancos estrangeiros cresceram 6,6%.
A concessão de crédito para financiar o consumo começou a perder fôlego mesmo, mas é apenas uma queda do ritmo. O saldo cresceu 9,2% em 12 meses, bem menos que o crescimento total do crédito, de 16%. De janeiro a abril, o crescimento foi de 2,1%. O saldo total de empréstimos destinados à compra de carros caiu 0,4% nesse período. As concessões, ou seja, novos empréstimos, recuaram 1,1%.
A inadimplência do setor de veículos havia subido muito e tem caído devagar. Era de 3,6% em março de 2011 e chegou a 7,2% em maio de 2012. Em abril deste ano, caiu para 6,3%. O que torna pior a situação desse mercado é que os atrasos entre 15 e 90 dias no financiamento de veículos estão com taxa maior, de 8,2%. Ou seja, a inadimplência pode voltar a subir nos próximos meses.
Mesmo com o ótimo momento do mercado de trabalho, que favorece reajustes salariais, o endividamento das famílias em relação à renda de 12 meses continuou subindo e atingiu 43,99%. A renda mensal comprometida com o pagamento das dívidas caiu um pouco, de 21,84% para 21,66%, mas continua em patamar elevado. A alta da Selic deve complicar um pouco esse quadro.
Há boas notícias. O crédito direcionado para as pessoas físicas, que serve para a compra da casa própria, subiu, em um ano, de 7,5% para 9,1% como proporção do PIB. Esse crescimento é bom porque o país tem um forte déficit habitacional. Nos últimos 12 meses, o saldo de empréstimos imobiliários chegou a R$ 281 bilhões, com alta de 34%. Somente em abril, houve R$ 10 bi de crédito imobiliário concedido. Técnicos do governo argumentam que esse é um dos motivos para o crescimento do endividamento porque muitas famílias estão deixando de pagar aluguel para pagar essas prestações. Eles têm razão, mas isso também significa um comprometimento com uma dívida de longo prazo.
Outra boa notícia é que o estoque de crédito podre na economia - empréstimos não pagos por mais de 6 meses - está há cinco meses sem crescer. Ficou em R$ 72 bilhões, em abril, mas já esteve em R$ 74 bi, em dezembro. O que preocupa nesse indicador é que o número, em 2003, era de apenas R$ 13 bilhões.
Os juros caíram, mas algumas linhas revelam taxas absurdas. Para a compra de outros bens que não sejam veículos, a taxa recuou de 77,8% ao ano, em dezembro de 2011, para 68,2% em abril deste ano. O cheque especial teve uma redução de mais de 30 pontos, mas continua quase sendo caso de polícia: foi de 169% a 136%.
O Brasil não é um país de famílias endividadas, mas já está num nível em que todos esses dados precisam ser acompanhados com cuidado. Tudo isso aumenta o dilema do Copom. Juros subindo tornam o crédito mais caro; inflação em alta tira renda das famílias. Mas o compromisso do BC é segurar a inflação.
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