O GLOBO - 29/05
Entre as variáveis que o Conselho de Política Monetária (Copom), formado pela direção do Banco Central, analisa para decidir sobre a taxa básica de juros, a Selic, está o crédito. O anúncio a ser feito hoje pelo Conselho, de manutenção ou elevação da taxa de 7,5%, em alguma medida deverá ser condicionado pela constatação de que a concessão de financiamentos arrefece — de março para abril, o volume de dinheiro liberado caiu de R$ 14,1 bilhões para R$ 13,5 bilhões, em todas as modalidades de crédito.Não se sabe se o fato justificará maiores preocupações com o nível de atividade ou pesará mais como indicador do esgotamento do longo ciclo de aquecimento do consumo, modelo que precisa ser substituído pela prioridade aos investimentos.
O crédito no Brasil teve um impulso nunca visto em tempos recentes, impulsionado pela queda dos juros, a própria estabilização da economia — hoje em perigo — e algumas mudanças de regulação para reduzir o risco excessivo do financiador, caso do mercado imobiliário. Depois de crescimentos vigorosos, na casa dos dois dígitos, os financiamentos se aproximam dos 55% do PIB, índice acanhado diante dos verificados em economias desenvolvidas, mas recorde no país.
O governo tem tentado prolongar ao máximo o ciclo de crescimento via consumo: capitalizou, até de forma temerária, bancos públicos, forçou-os a aumentar a participação nos financiamentos, e não para de ampliar os gastos públicos em custeio, em que arranha a responsabilidade fiscal.
Mas tudo tem um limite. A inflação em segmentos como o de serviços que o diga. Assim como o relativo esgotamento da capacidade de as famílias se endividarem, principalmente para a aquisição de bens duráveis. Segundo dados do próprio BC, em março o índice de endividamento familiar chegou a 43,99%. Quer dizer, desvia-se quase metade da renda anual. É o nível mais elevado desde quando o indicador passou a ser calculado, em 2005, e foi de 18,39%. A inadimplência não preocupa, mas o momento é de retração, para recompor renda e reconstituir capacidade de se contrair novas dívidas.
O tempo passa e fica cada vez mais evidente, e consensual, que a retomada do crescimento, de forma consistente, terá de ser impulsionada pelos investimentos. Pelo lado do governo, conspira contra a proverbial falta de agilidade da máquina pública e a ainda não superada de todo dificuldade de se fazerem licitações para o setor privado tocar projetos de infraestrutura.
Hoje, o BC tem mais uma oportunidade de, ao decidir sobre os juros com independência, ser o que se espera de todo banco central: balizador das melhores expectativas. E, por óbvio, qualquer perspectiva de inflação em alta funciona como inibidor do que o país necessita com urgência — investimentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário