A Europa está falando em menos austeridade, mas é preciso ter em mente o esforço já feito: entre 2009 e 2012, os 17 países da zona do euro reduziram o déficit público em 215 bilhões. O buraco das contas públicas saiu de 567 bilhões para 352 bi em três anos. Queda de 37%. Em relação ao PIB, caiu de 6,4%, em média, para 3,7%. Assim eles evitaram o pior e tiveram algumas vitórias.
O caminho da recuperação ainda é longo, mas Portugal voltou com sucesso ao mercado de títulos de longa duração, por exemplo. A receita de apertar os cintos não trouxe o crescimento de volta, mas melhorou o quadro geral. Se nada tivesse sido feito, a projeção para o rombo era assustadora.
Governos que fecham as contas no vermelho precisam pedir dinheiro emprestado. Quando o déficit sobe muito, as taxas de juros dos empréstimos também sobem, porque aumenta o risco de calote. O déficit então se realimenta a cada rolagem de dívida. Gastar mais para combater a recessão não era alternativa em 2009. Se os governos fizessem isso, as fontes de financiamento secariam e o colapso ficaria mais próximo.
Esta semana o ministro da Economia da França anunciou que o país ganhou mais dois anos para chegar aos 3% de déficit. Não é a derrota da ideia de pôr as contas em ordem. Os franceses reduziram o déficit de 7,5% em 2009 para 4,8% em 2012. Em termos nominais, caiu de 142 bilhões para 98 bi.
Houve também, infelizmente, o efeito bumerangue: o corte de gastos aprofundou a recessão e realimentou o déficit, em alguns países, como a Espanha. Em 2009, o governo espanhol fechou no vermelho em 117 bilhões. Depois de todo esforço feito, no ano passado, o déficit havia caído apenas para 111 bi. O país está em recessão com forte desemprego.
Já Portugal fez um ajuste que reduziu o déficit de 17 bilhões para 10 bi no período. E decidiu continuar no caminho da austeridade. O governo português esta semana voltou ao mercado de títulos de longa duração, vendendo papéis com vencimento de 10 anos a juros de 5,5%. Há um ano, os mesmos títulos tinham que pagar 12%. Houve melhora nesse período, mas, ainda assim, o governo prepara mais medidas, como elevação da idade mínima de aposentadoria para 66 anos, redução de 30 mil servidores públicos e aumento da carga semanal de trabalho em 5 horas. Espera-se economizar 4,8 bilhões em três anos.
A Alemanha, como sempre, é o melhor caso, porque é beneficiada pela boa reputação. Nos momentos de maior temor, a corrida para os títulos alemães fez o país financiar sua dívida a custo zero. O déficit de 73 bi virou superávit de 4 bi.
Para a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, a Europa precisou dar mais tempo para atingir as metas porque o desemprego está alto demais, os governos estão perdendo popularidade, e os partidos extremistas estão ganhando mais espaço. Além disso, o BCE deu garantias, e grande parte dos cortes já foram feitos. Mas nada disso é licença para a gastança.
- O pior momento já passou, mas o aperto menor não significa que a austeridade chegou ao fim. Os países ganharam um pouco mais de tempo, mas terão que continuar cortando gastos e subindo imposto. Não acredito que haverá uma melhora no mercado de trabalho ou volta do crescimento exuberante por causa disso. O que vai acontecer é impedir que o quadro piore - afirmou.
Mesmo com a eleição de Hollande, que completou um ano no cargo, os franceses não tinham outro caminho a não ser cortar gastos. Com a Alemanha com déficit baixo, o governo francês teve mais um motivo para lutar contra o vermelho em suas contas: manter-se ao lado dos alemães e não perder força na zona do euro. O problema era haver um descolamento da percepção de risco entre os dois países, favorável aos alemães.
O mais perigoso efeito colateral das medidas de austeridade é o desemprego. A taxa chegou a 12,1% em março, na média da zona do euro. Um recorde. Os cortes de gastos implicam em redução do número de servidores, redução de salários, pensões e aposentadorias. Há menos consumo. O governo investe menos, e os empresários, também, porque perdem a confiança. A economia esfria, o setor privado gera menos vagas, e o número de desempregados aumenta. Na Grécia, a taxa de desemprego chegou a 27%; na Espanha, 26%; e em Portugal, 17,5%. Entre os jovens, a situação é pior. Por tudo isso, é um alento saber que o pior da austeridade ficou para trás.
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