FOLHA DE SP - 10/05
SÃO PAULO - O Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu limitar a 50 anos a idade até a qual mulheres podem submeter-se a técnicas de reprodução assistida. Na mesma linha, manteve a proibição de que o casal escolha o sexo da criança. De onde eles tiram essas ideias?
É claro que, quanto mais velha a mulher, maior o risco da gravidez. Mas é improvável que um limite linear que não considere a saúde do indivíduo seja a melhor resposta.
Há dúvidas até sobre o real impacto da idade na gestação. Como lembrou ontem Cláudia Colucci, um estudo que comparou grávidas de mais de 50 anos com de menos de 42 mostrou que não há diferença significativa nas taxas de complicações.
E por que pais não podem definir se terão um menino ou uma menina, já que isso não causa mal a ninguém?
Meu palpite aqui é que, para tomar essas decisões, o CFM apoiou-se não na ciência, como seria desejável, mas no bom e velho apelo à natureza ("argumentum ad naturam"). Como é muito difícil que, em estado natural, mulheres de mais de 50 engravidem, proibamo-las de tentar. Já que a mãe natureza não nos faculta escolher o sexo de nossos rebentos, impeçamos a ciência de fazê-lo.
O problema com esse argumento é que ele é uma falácia. Seria possível tanto fazer uma narrativa épica de como a humanidade triunfou derrotando a natureza, com seus predadores e intempéries, como lembrar exemplos de grandes equívocos causados pelo fato de termos tentado negar os primados de nossa biologia.
Se é ou não possível extrair um "deve ser", isto é, uma prescrição ética, de um "é", ou seja, de uma descrição do mundo, constitui um dos mais interessantes problemas filosóficos, que já consumiu oceanos de tinta. Diversos autores se saíram com diferentes respostas e, se há algo perto de uma unanimidade, é a de que precisamos evitar a noção simplista de que a natureza é sábia e, por isso, não podemos contrariá-la.
Nenhum comentário:
Postar um comentário