O ESTADO DE S. PAULO - 28/03
A habitual fluência, surpreendente serenidade - deu apenas uma canelada no antecessor Fernando Henrique -e uma observação perspicaz sobre a atmosfera das audiências da sucessora Dilma Rousseff pontuaram a primeira grande entrevista do seu padrinho Luiz Inácio Lula da Silva a um jornal brasileiro, no caso o Valor, desde que desceu do Planalto. Desceu, as suas palavras deixam claro, apesar dos disfarces, apenas em sentido formal. Longe da jactância que foi a marca registrada dos seus pronunciamentos quando presidente, desta vez ele se esforçou para parecer menos do que é na esfera da política e do governo. A propósito da campanha sucessória, por exemplo, o articulador da formidável coligação para eleger Dilma em 2010 diz que prefere percorrer o País de palanque em palanque a "trabalhar nos bastidores". Perguntado se não se dedicará nem à costura de alianças, nunca antes terá sido tão modesto - e inverídico - ao responder: "Não precisa ser eu. O PT costura".
Nem por isso deixou de discorrer à larga, sem descalçar as sandálias da humildade, sobre a possível candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com quem ressaltou ter uma "amizade inabalável", e uma eventual iniciativa de sua parte para demovê-lo da ideia. "Não tenho procuração nem do Rui Falcão nem da Dilma para negociar qualquer coisa", devolveu, como se dependesse do presidente do PT para o que for. No mesmo tom, ao tratar da escolha do candidato do partido ao Palácio dos Bandeirantes, no quadro de uma aliança "além dos limites da esquerda", a exemplo daquela que construiu para Fernando Haddad, declarou-se, como que de olhos baixos, pronto a "dar um palpite, se o partido quiser me ouvir". Mas ao comentar a desavença entre o governador fluminense Sérgio Cabral, do PMDB, patrono da candidatura de seu vice Luiz Fernando de Souza, o Pezão, e o companheiro Lindbergh Farias, que também aspira ao Palácio Guanabara, deixou os eufemismos de lado.
"Na minha cabeça, o projeto principal é garantir a reeleição de Dilma", afirmou - o que significa que, se a protocandidatura do ex-presidente da UNE for um estorvo para Rio, não vingará. O mesmo se aplica aos demais Estados. No PT, de há muito que a única sentença que conta é a que sai da cabeça de seu nume tutelar. Para ele, vale o que ditou em 2010: "Não podemos permitir que a eleição de Dilma corra qualquer risco. Não podemos truncar nossa aliança com o PMDB". E isso depois de ter contado que dias atrás ligou para a presidente e lhe disse que tomasse cuidado "para não passar dos 100%", referindo-se aos seus altos índices de popularidade e folgada liderança nas pesquisas de intenção de voto. Ele contou também que, ao deixar o Planalto, "tinha vontade de dar minha contribuição para a Dilma, não me metendo nas coisas dela". E "acha" que conseguiu, "quando viajei 36 vezes depois de deixar o governo". Faz lembrar a quase lógica dos seus discursos de palanque.
Lula, evidentemente, não pode confessar a verdade conhecida de todos: que ele, pelo menos na sua cabeça, continua presidente - e não raro age como tal. Ainda que pareça sincero ao declarar que "nunca esse País teve uma pessoa que chegou na Presidência tão preparada como a Dilma" porque "ela conhecia (0 governo) por dentro", diferentemente da situação dele próprio e de Fernando Henrique. (Nesse ponto, não resistiu e se cobriu de glórias: "Foi um grande acerto",) É tido e sabido, por exemplo, que ela só passou a receber empresários com certa frequência depois de instada por Lula, por mais que este dê a entender que a ficha da presidente caiu sem a sua interferência. Ele foi arguto, de toda maneira, ao chamar a atenção para um complicador das conversas de Dilma, além do seu estilo. "Homem fala coisa que mulher não pode falar, conta piada", observou, numa alusão ao que ele fazia, bem à brasileira, para desanuviar o ambiente nos encontros mais difíceis. É provável ainda que os homens não tenham o hábito de "perceber a mulher em um cargo mais importante". Seja como for, a avaliação positiva do governo Dilma, a julgar pela mais recente sondagem do Ibope, é praticamente a mesma entre homens e mulheres.
Nem por isso deixou de discorrer à larga, sem descalçar as sandálias da humildade, sobre a possível candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com quem ressaltou ter uma "amizade inabalável", e uma eventual iniciativa de sua parte para demovê-lo da ideia. "Não tenho procuração nem do Rui Falcão nem da Dilma para negociar qualquer coisa", devolveu, como se dependesse do presidente do PT para o que for. No mesmo tom, ao tratar da escolha do candidato do partido ao Palácio dos Bandeirantes, no quadro de uma aliança "além dos limites da esquerda", a exemplo daquela que construiu para Fernando Haddad, declarou-se, como que de olhos baixos, pronto a "dar um palpite, se o partido quiser me ouvir". Mas ao comentar a desavença entre o governador fluminense Sérgio Cabral, do PMDB, patrono da candidatura de seu vice Luiz Fernando de Souza, o Pezão, e o companheiro Lindbergh Farias, que também aspira ao Palácio Guanabara, deixou os eufemismos de lado.
"Na minha cabeça, o projeto principal é garantir a reeleição de Dilma", afirmou - o que significa que, se a protocandidatura do ex-presidente da UNE for um estorvo para Rio, não vingará. O mesmo se aplica aos demais Estados. No PT, de há muito que a única sentença que conta é a que sai da cabeça de seu nume tutelar. Para ele, vale o que ditou em 2010: "Não podemos permitir que a eleição de Dilma corra qualquer risco. Não podemos truncar nossa aliança com o PMDB". E isso depois de ter contado que dias atrás ligou para a presidente e lhe disse que tomasse cuidado "para não passar dos 100%", referindo-se aos seus altos índices de popularidade e folgada liderança nas pesquisas de intenção de voto. Ele contou também que, ao deixar o Planalto, "tinha vontade de dar minha contribuição para a Dilma, não me metendo nas coisas dela". E "acha" que conseguiu, "quando viajei 36 vezes depois de deixar o governo". Faz lembrar a quase lógica dos seus discursos de palanque.
Lula, evidentemente, não pode confessar a verdade conhecida de todos: que ele, pelo menos na sua cabeça, continua presidente - e não raro age como tal. Ainda que pareça sincero ao declarar que "nunca esse País teve uma pessoa que chegou na Presidência tão preparada como a Dilma" porque "ela conhecia (0 governo) por dentro", diferentemente da situação dele próprio e de Fernando Henrique. (Nesse ponto, não resistiu e se cobriu de glórias: "Foi um grande acerto",) É tido e sabido, por exemplo, que ela só passou a receber empresários com certa frequência depois de instada por Lula, por mais que este dê a entender que a ficha da presidente caiu sem a sua interferência. Ele foi arguto, de toda maneira, ao chamar a atenção para um complicador das conversas de Dilma, além do seu estilo. "Homem fala coisa que mulher não pode falar, conta piada", observou, numa alusão ao que ele fazia, bem à brasileira, para desanuviar o ambiente nos encontros mais difíceis. É provável ainda que os homens não tenham o hábito de "perceber a mulher em um cargo mais importante". Seja como for, a avaliação positiva do governo Dilma, a julgar pela mais recente sondagem do Ibope, é praticamente a mesma entre homens e mulheres.
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