O GLOBO - 28/03
Emma Bovary e Anna Karenina são as adúlteras mais famosas da literatura, e as duas tiveram o mesmo fim. Foram vitimas da sua época, da hipocrisia das sociedades em que viviam - mas também do moralismo disfarçado dos seus autores, que as criaram para se destruírem. Flaubert e Tolstoi condenaram a hipocrisia, mas não deixaram de castigar as suas duas transgressoras, ou de permitir que elas se castigassem. Enfim, foram homens, com sua misoginia à mostra, antes de serem artistas defendendo a transgressão.
Ainda não fizeram, que eu saiba, um bom filme de "Madame Bovary" (o último que tentou sem sucesso foi o falecido Claude Chabrol), mas o filme definitivo de "Anna Karenina" está nas telas, deslumbrando todo o mundo. A explicação talvez seja que Flaubert nunca encontrou um colaborador à sua altura para fazer o roteiro, enquanto Tolstoi encontrou o Tom Stoppard. E os dois contaram com um diretor aventureiro como Joe Wright, que conseguiu fazer um filme altamente estilizado, na sua redução dos cenários - até o de uma corrida de cavalos - a um teatro e seus bastidores, sem que isto parecesse preciosismo vazio ou atrapalhasse o drama. O filme é teatro sem ser teatral, como escreveu o Xexeo. E se tivesse sido filmado de forma convencional não teria a metade do impacto visual que tem. Com pouquíssimas tomadas externas, sem sair dos confins de um teatro, o filme mostra a Rússia imperial em todo o seu esplendor e miséria. O vasto exterior só aparece como contraponto para o claustrofóbico pequeno mundo da corte.
Joe Wright, para quem não se lembra, é o diretor, entre outros, do filme "Atonement" ("Desejo e reparação", se não me engano), baseado num romance de Ian McEwan. O filme contém o que é provavelmente o mais longo travelling ininterrupto da história do cinema, toda a confusão na praia de Dunquerque, onde tropas inglesas fugindo dos alemães no começo da guerra esperavam para serem retiradas, captada numa única e interminável tomada de tirar o fôlego. Podia ser exibicionismo técnico gratuito, mas mostrava a audácia de um diretor, que agora se confirma com este entusiasmante "Anna Karenina". Olho nele.
Mesmo para quem acha que nunca haverá outra Anna como a Greta Garbo, ou faz restrições a um ou outro incisivo da Keira Knightley, o filme é uma experiência imperdível. Ganhou só um Oscar, o que também o recomenda.
O filme definitivo de "Anna Karenina" está nas telas.
A explicação talvez seja que Flaubert nunca encontrou um colaborador à altura para o roteiro e Tolstoi encontrou o Tom Stoppard
Ainda não fizeram, que eu saiba, um bom filme de "Madame Bovary" (o último que tentou sem sucesso foi o falecido Claude Chabrol), mas o filme definitivo de "Anna Karenina" está nas telas, deslumbrando todo o mundo. A explicação talvez seja que Flaubert nunca encontrou um colaborador à sua altura para fazer o roteiro, enquanto Tolstoi encontrou o Tom Stoppard. E os dois contaram com um diretor aventureiro como Joe Wright, que conseguiu fazer um filme altamente estilizado, na sua redução dos cenários - até o de uma corrida de cavalos - a um teatro e seus bastidores, sem que isto parecesse preciosismo vazio ou atrapalhasse o drama. O filme é teatro sem ser teatral, como escreveu o Xexeo. E se tivesse sido filmado de forma convencional não teria a metade do impacto visual que tem. Com pouquíssimas tomadas externas, sem sair dos confins de um teatro, o filme mostra a Rússia imperial em todo o seu esplendor e miséria. O vasto exterior só aparece como contraponto para o claustrofóbico pequeno mundo da corte.
Joe Wright, para quem não se lembra, é o diretor, entre outros, do filme "Atonement" ("Desejo e reparação", se não me engano), baseado num romance de Ian McEwan. O filme contém o que é provavelmente o mais longo travelling ininterrupto da história do cinema, toda a confusão na praia de Dunquerque, onde tropas inglesas fugindo dos alemães no começo da guerra esperavam para serem retiradas, captada numa única e interminável tomada de tirar o fôlego. Podia ser exibicionismo técnico gratuito, mas mostrava a audácia de um diretor, que agora se confirma com este entusiasmante "Anna Karenina". Olho nele.
Mesmo para quem acha que nunca haverá outra Anna como a Greta Garbo, ou faz restrições a um ou outro incisivo da Keira Knightley, o filme é uma experiência imperdível. Ganhou só um Oscar, o que também o recomenda.
O filme definitivo de "Anna Karenina" está nas telas.
A explicação talvez seja que Flaubert nunca encontrou um colaborador à altura para o roteiro e Tolstoi encontrou o Tom Stoppard
Um comentário:
Filme maravilhoso, e o Verissimo, como sempre exato, um filme digno de Verissimo e Vo comentario do Verissimo digno do filme!!!!! MARAVILHOSOS!!!!!!!!
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