O GLOBO - 28/03
É comum se ouvir no Brasil a expressão "sem fins lucrativos" como um qualificativo para a instituição referida. A lógica nos leva (ou aos ignorantes) a crer que aquele que tem lucro não presta. Na verdade, quase sempre é o contrário. Até poderiam usar algo como "não distribui dividendos a ninguém" para algumas ONGs se mostrarem mais simpáticas a seus pretensos patrocinadores.
Lucro é como mulher bonita. Quem não tem, quer a do vizinho. Trabalhar, progredir, ganhar mais, comprar um carro, uma casa, uma aliança, viajar, são desejos humanos atávicos. Imutáveis. A mesma roupa e o sapato recomendados por Mao não resistiram a dois dias de liberdade. Todos foram para o lixo e as grifes encheram as ruas de Shanghai.
Já foi pecado ter lucro. Hoje a Igreja reza e luta para que seus euros e ouros sejam bem empregados a fim de fugir do prejuízo destruidor. Entrar no céu era privilégio dos pobres. Hoje está mais compreensível, para a alegria dos listados na Forbes.
Os que se intitulam de "esquerda" por sua vez, adoram dizer: "Eles só pensam em lucro." Mas querem salários maiores, às vezes, até dezessete por ano, e reclamam, aos gritos, quando não recebem dividendos de suas ações da estatal de seu coração ou de algum banco mais lucrativo.
A geração legítima de lucros - significando o resultado positivo da atividade econômica, sem ajudas e apadrinhamentos oficiais, contando apenas com a capacidade empresarial de disputar o mercado, com produtos onde preço, qualidade e serviço são definidores das escolhas do consumidor - é o motor principal da sociedade moderna e globalizada.
A simples e ideológica posição contra o lucro, na maior parte das vezes, traduz a incapacidade do indivíduo de gerar resultados ou, pior ainda, movida pela inveja (na definição clássica do Zuenir Ventura) daqueles que, por profissionalismo, o fazem.
Arguir contra o lucro, sobre o qual incidem impostos que devem ser aplicados corretamente em benefício da população, também serve para o discurso falso e oportunista destinado a agradar, enganando as multidões com linguajar incendiário contra os "empresários gananciosos" e aqueles que "só pensam em lucros" Mas a história tem dado às nações que respeitam, estimulam e engrandecem os que são capazes de gerar lucros posições de liderança e, a seus povos, mais dignidade.
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