FOLHA DE SP - 21/03
Só protestar não basta, pois, sem energia, não é possível crescer e incluir mais pessoas
A coluna passada angariou simpatia de ambientalistas em razão da sugestão de acelerar a diversificação da matriz elétrica e por ter levado em conta fatores extraeconômicos ao discutir as hidrelétricas na Amazônia.
Hoje, faço um contraponto. A preocupação ambiental tem sido bem útil para nos ensinar práticas que diminuem os desperdícios. Nos últimos anos, aprendi coisas que favorecem o uso racional da água e contrariam a educação que recebi na infância, como reduzir o número diário de descargas sanitárias.
Também sobre políticas públicas o ambientalismo tem dado contribuições, por exemplo, ao reivindicar o desenvolvimento de fontes limpas de eletricidade e a intensificação da conservação de energia.
Mas há algo perturbador na atuação de parte do movimento ambientalista no que se refere ao que fazer sobre o aquecimento global.
Não se costuma duvidar de que as temperaturas subiram. A causa pode ser a ação humana -que desde a Revolução Industrial usa os recursos naturais de forma quase exponencial, provocando pesados danos ambientais, como emissões de CO₂ e desmatamentos- ou ser fenômeno aleatório, que se dissipará.
A maioria dos cientistas advoga que a ação humana foi decisiva. Sou fã da ciência, mas a história mostra que seu discurso é incapaz de dar conta de tudo que há no mundo, tornando-se por vezes dogmático.
Se é verdade que a Revolução Industrial mudou a escala da intervenção humana sobre o planeta, também é certo que a natureza é tão maior e mais poderosa que a humanidade que tenho dúvidas sobre o que está realmente ocorrendo.
Ademais, vale lembrar que, diante de um conhecimento por natureza incerto, cada um acredita no que quer. Por exemplo, como a maioria, entendo e aceito a moderna descrição do Sistema Solar, mesmo só a visualizando por desenhos. Logo, não é despropositado dizer que a crença no heliocentrismo vem em parte de minha simpatia pela coragem de Copérnico e Galileu e pelas implicações da derrocada do geocentrismo, que enfraqueceu a igreja e fortaleceu as liberdades.
Assim, prefiro não limitar os planos para o crescimento do Brasil. Nesse ponto surgem minhas divergências com o ambientalismo radical. Certos de que a Terra virou uma Sodoma e Gomorra do consumismo, militantes pressionam contra projetos cruciais para o crescimento sustentado, como as hidrelétricas.
A geração hídrica é considerada limpa, pois emite quantidades ínfimas de CO₂. Mas sua implantação causa danos. Para compensá-los, os investimentos socioambientais em projetos de hidrelétricas no país são de 10% do total, nível atingido graças às pressões de ambientalistas e movimentos sociais. Porém muitos militantes não estão satisfeitos.
A insatisfação é natural num movimento que iniciou suas reivindicações em grande desvantagem, quando o uso de combustíveis fósseis já havia mudado sobremaneira a forma de ocupar o planeta.
Ainda assim, um grave problema surge quando não se oferece opção ou se propõem coisas por demais genéricas, por exemplo tomando a conservação de energia como panaceia. A preservação ambiental vira uma causa estagnacionista, que acaba defendendo congelar a pobreza.
É difícil que países como a China e o Brasil abram mão de buscar padrão de consumo próximo ao dos desenvolvidos e é improvável que a maioria, se a renda permitir, deixe hábitos como viajar de avião e comer carne frequentemente.
Quer dizer, o ambientalismo extremista está fadado ao fracasso, mesmo se estiver certo. A saída possível é desenvolver tecnologias mais eficientes ambientalmente, como as energias solar, eólica e por biomassa e os veículos elétricos.
A energia eólica é um bom exemplo: seu custo vem se tornando competitivo, embora sua qualidade ainda sofra com as oscilações dos ventos, exigindo novas tecnologias para poder aumentar sua participação na matriz energética.
Para tanto, é preciso regular os mercados e crescer, de maneira que empresas e governos tenham recursos (demanda) para desenvolver tais tecnologias.
Enquanto isso, seria bom combinar regras. Por exemplo, quem não gosta de um projeto de hidrelétrica precisa especificar alternativas viáveis que servirão de compensação. Só protestar não basta, pois, sem energia, não é possível crescer e incluir mais pessoas. E isso não pode estar em disputa.
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