O Estado de S.Paulo - 21/03
Digamos que não seja uma probabilidade, mas não chega a ser uma impossibilidade o ex-governador José Serra e um grupo de tucanos deixarem o PSDB em busca de oxigênio, já um tanto fartos de serem excluídos das decisões e, ao mesmo tempo, apontados como o motivo da desunião interna e fator preponderante para a busca do êxito em 2014.
Parênteses: na hipótese remota de isso vir a acontecer, em princípio não seria para Serra se candidatar à Presidência.
Mas o tema não é de fácil trato. A questão é para qual partido iriam e como fazer esse movimento sem que sejam responsabilizados pela desintegração do PSDB e, no caso de a candidatura do senador Aécio Neves à presidência da República, não sejam culpados por isso.
De onde, o que se têm hoje é uma imensa insatisfação sem solução à vista na perspectiva de ruptura. Resta, nas condições objetivas de hoje, administrar as divergências e tentar construir convergências básicas.
Serra e Aécio conversaram junto com o governador Geraldo Alckmin na segunda-feira à noite, quem acompanha o noticiário já sabe disso. Nada ficou resolvido, tudo ficou em aberto e, a rigor, não fizeram muita coisa de diferente em relação a encontros anteriores.
Um detalhe irrelevante no conteúdo, mas significativo do ponto de vista dessa relação algo estrábica (cada um olha em direção diferente): o senador diz que conversaram durante três horas e o ex-governador afirma que a reunião durou pouco mais de uma hora.
Por que isso? Sabe-se lá, idiossincrasias talvez. Na essência, contudo, as versões de ambos os lados não se conflitam. O que não quer dizer que tenham feito o relato completo do que realmente foi dito. Aécio explicitou o desejo de presidir o PSDB e disse que era importante como credencial para rodar o País sem precisar assumir a candidatura presidencial.
Serra não vê ligação entre uma coisa e outra. Uma presidência de partido não é sustentáculo para candidaturas à Presidência da República.
Ao contrário: o comando da legenda deixaria o candidato exposto a questões desconfortáveis. Por exemplo, a resolução de querelas internas que possam resultar em conflito com uma ou outra ala do partido.
Dias antes desse encontro, Aécio Neves fez um movimento tático. Consultou alguns aliados de Serra, entre os quais o senador Aloysio Nunes Ferreira, o vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman, e o deputado Jutahy Magalhães, sobre a hipótese de Serra querer assumir a presidência do partido e impor esse desejo como condição para ficar.
O assunto não foi abordado na conversa de segunda-feira. Se fosse, qual seria a resposta? Serra desconversa. Seus amigos também, mas dão uma pista quando alegam que o paulista está sem mandato e Aécio tem a tribuna do Senado e uma pré-candidatura à Presidência. Logo...
Ao trabalho. O deputado Marco Feliciano está por um fio na presidência da Comissão de Direitos Humanos, mas, mesmo que se vá, fica o problema da inadequação de folhas corridas aos cargos.
O presidente da Câmara fatura o pedido de renúncia, os colegas do PSC faturam a pressão para que ele saísse, os protestos produziram resultados, mas o caso é registrado como exceção.
Se ele insistir, os integrantes da comissão poderiam usar o poder da maioria para que não prosperem propostas desrespeitosas aos direitos alheios.
De derrota em derrota, ele perde a legitimidade para presidir o colegiado. Para isso, no entanto, seria necessário suas excelências não darem asas ao corpo mole e comparecer às reuniões para combatê-lo.
Se prosseguirem as indicações desprovidas de critérios e se o Congresso deixar que investigados e até condenados ocupem cargos de destaque, a saída de Feliciano terá sido jogo para a arquibancada.
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