No artigo da semana passada, escrevi sobre como o atual governo tem lançado mão de diversos artifícios para manter a inflação sob controle. Muito do que tem sido feito não é novo.
Ao contrário, a economia brasileira presenciou uma cota bastante elevada de pirotecnias econômicas para conter a inflação nos anos 1980, que no fim, resultou em uma hiperinflação inédita, desabastecimento, perda de competitividade, desemprego e até uma moratória unilateral da dívida externa.
Infelizmente, o saudosismo do atual governo não para por aí. Em diversas áreas, há muitas semelhanças com a "década perdida".
Aproveitou-se a crise de 2008 para justificar medidas conjunturais que, na verdade, tornaram-se permanentes. O uso dos bancos públicos para irrigar a economia com crédito e incentivar o consumo era justificável em 2009 e teve efeitos contra-cíclicos importantes, ajudando na rápida recuperação econômica.
Mas a estratégia de crédito frouxo tornou-se de longo prazo. Por um lado, se aposta no consumo com endividamento das famílias para manter a economia aquecida. Por outro, usa-se o BNDES para distribuir subsídios sem foco, criando-se dívida pública e distorções permanentes.
As seguidas capitalizações feitas pelo Tesouro nada mais são que a reedição disfarçada da "conta movimento". Pior ainda é a intenção do governo de criar um fundo para financiar a infraestrutura, que seria repassado aos bancos privados.
O mesmo governo que usa os bancos públicos para forçar a queda dos juros no setor privado, agora pretende oferecer funding e projetos garantidos pelo Tesouro para o mesmo setor.
A pressão do governo sobre o empresariado para que repasse as desonerações imediatamente lembra muito o relacionamento estabelecido pelo extinto Conselho Interministerial de Preços e mostra que a intervenção não tem limites.
Por outro lado, as estatais, forçadas a segurar preços, estão sendo debilitadas da mesma forma que na década de 1980, prejudicando sua capacidade de investimento. Levou-se mais de uma década para saneá-las no passado.
Já o caso da Petrobrás é sintomático: a adoção do modelo de partilha parece querer emular o antigo monopólio da empresa.
Algumas medidas são positivas, como a criação da Embrapii. Mas a enxurrada de incentivos e planos de política industrial - que lembram muito a série de pacotes anti-inflacionários no passado - mostram certo desespero na área.
E a mudança constante desestimula o investimento. Um grande exemplo são as tarifas de importação, usadas para proteger a indústria num primeiro momento e, num segundo, usadas para ameaçá-la.
Na verdade, não se trata propriamente de saudosismo, mas sim, da volta de uma visão de mundo calcada na desconfiança na capacidade do mercado de produzir prosperidade, no pouco apreço pela iniciativa privada e na insistência em creditar ao Estado a responsabilidade de ser o motor e centro não só da economia, mas da sociedade.
Muita gente sente saudades dos anos 1980. Por isso, eventos como as "festas Ploc" fazem sucesso. Entretanto, ninguém sente saudades da hiperinflação ou de congelamentos de preços. Hoje, a economia brasileira está em ritmo de festa Ploc. O grande problema é que, quando a festa acabar, quem irá dançar seremos nós.
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