FOLHA DE SP - 05/03
"Tola, arbitrária." Assim o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, definiu a atitude do Partido Republicano de rejeitar a renegociação da lei que impõe reduções automáticas do deficit do governo até 2021. Os cortes deste ano, de cerca de US$ 85 bilhões, entraram em vigor na semana passada.
O impasse é mais um capítulo de três anos de confrontos entre Obama e a oposição republicana, que desde 2011 controla a Câmara. O conflito indica que nem sempre partidos fortes -poucos e ideologicamente coesos- e um sistema eleitoral propenso a maiorias estáveis garantem governabilidade.
Um aspecto dessa crise é o próprio acirramento ideológico; o confronto se deve também ao método de eleição dos deputados, em pequenos distritos eleitorais.
O Partido Republicano tornou-se mais duro em sua posição de reduzir o governo. E, mesmo com o apoio da maioria da população a Obama, deputados republicanos relutam em aderir à opinião predominante, pois temem perder a indicação do partido ou a eleição em seus distritos. Por outro lado, analistas políticos e mesmo democratas consideram que o presidente carece de habilidade e inclinação para negociar com o Congresso.
Em 2011, o governo esteve à beira da inadimplência, pois a maioria republicana se recusava a aumentar o limite do endividamento federal. Um acordo de última hora resultou na lei que, entre outras determinações, previa a formação de um "supercomitê" bipartidário.
O grupo foi encarregado de estudar maneiras de reduzir o deficit -se com mais impostos, menos gastos ou uma combinação de ambos. Sem acordo, os cortes seriam automáticos. Foi o que ocorreu.
Metade dos cortes incidirá sobre o orçamento de defesa; outra metade, sobre despesas discricionárias. Funcionários federais entrarão em licença não remunerada. De parques federais a agências de proteção do consumidor, do ambiente e de pesquisa, todos terão orçamentos menores.
Tal redução de despesas terá, sim, algum efeito no crescimento americano. As estimativas, porém, variam de uma redução de 0,3 ponto percentual a 1 ponto percentual do PIB, que não deve crescer mais do que em 2012 (2,2%).
Provavelmente não haverá dano econômico crítico, mas a capacidade decisória do sistema político americano fica mais reduzida. Dado o peso dos Estados Unidos no mundo, o torniquete deve diminuir ainda mais as chances de uma recuperação global.
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