FOLHA DE SP - 13/03
Por 99,8% dos votos -três sufrágios em mais de 1.500- os habitantes das ilhas Malvinas decidiram continuar cidadãos do Reino Unido, que as chama de Falklands.
O referendo é uma derrota constrangedora para o governo argentino, que, sobretudo quando a economia vai mal, eleva o tom da compreensível reivindicação por soberania sobre o arquipélago, situado a 500 km de sua costa (não muito mais que Fernando de Noronha dista do Brasil, 350 km).
É, porém, um pleito difícil de sustentar nos dias de hoje, em que o direito internacional se funda mais na perspectiva de populações do que no histórico, real ou imaginário, de posse territorial. Em especial para um governo que se diz popular, como o de Cristina Kirchner, não é trivial ir contra o princípio da autodeterminação dos povos.
Parece improvável, porém, que o resultado arrefeça as pretensões argentinas. Autoridades platinas classificaram a consulta como ilegal e não reconhecem os "kelpers", como são chamados os ilhéus, como parte legítima da disputa.
O problema de fundo é o nacionalismo, que faz preponderarem as reações emocionais. No conflito de 1982, generais argentinos tentavam dar sobrevida à sua ditadura insuflando uma causa comum para unir o país. Sob esse ângulo estreito, deu certo. Até a esquerda, massacrada sob os militares, apoiou a trágica aventura.
Ninguém esperava que os britânicos, sob o comando de Margaret Thatcher, também fossem suscetíveis ao vírus do nacionalismo e reagissem militarmente para preservar algumas ilhas, então sem maior valor econômico ou estratégico.
A esquadra real não teve grande dificuldade para derrotar os argentinos. O preço, entretanto, foi alto. Após 74 dias de combates, haviam morrido 649 militares argentinos, 255 britânicos e 3 "kelpers".
O custo econômico revela toda a irracionalidade dessa guerra: para resgatar o orgulho nacional, Thatcher gastou estimado 1 bilhão de libras esterlinas. Nas contas do economista Robert Frank, isso daria para presentear cada "kelper" com uma herdade na Escócia e generosa pensão vitalícia.
Felizmente, hoje é muito remota a probabilidade de que uma guerra dessas se repita ali. Mas a região estaria mais segura se todos se dobrassem aos imperativos de realidade e ao princípio da autodeterminação dos povos e trocassem a retórica agressiva por bom-senso e negociações pragmáticas.
Se for verdade que existe petróleo na região, faz mais sentido buscar um acordo econômico que possibilite ganhos para os dois lados.
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