SÃO PAULO - A eleição do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM) é uma piada de mau gosto. Suas declarações, que não ocultam um tom homofóbico e racista, representam algumas das visões de mundo que a CDHM tem por missão combater.
Isso posto, penso que a campanha para retirá-lo do cargo -que considero válida- está assumindo um caráter muito mais pessoal do que deveria. Feliciano, afinal, não tomou a comissão de assalto. Ele chegou aonde chegou devido a uma sucessão de eventos cujas responsabilidades precisam ser corretamente atribuídas.
E, se a ideia é repartir culpas, bodes expiatórios é o que não faltam. Há desde desalinhos institucionais, a exemplo do sistema de voto nominal e proporcional, que facilita a formação de bancadas temáticas como a evangélica, com uma força que transcende o peso da religião na sociedade, até o pecado da gula, pelo qual o PT abriu mão da CDHM, que comandava havia décadas, em troca de comissões mais vultosas. A força descabida que microssiglas exercem no sistema e o descaso que parlamentares desenvolveram para com a imagem do Legislativo são outros elementos que precisam entrar na conta.
O fato é que o polêmico pastor, o qual, vale frisar, tem direito a suas opiniões, por mais equivocadas e extemporâneas que nos pareçam, não é o único e talvez nem o maior responsável pelo deboche que se fez com a comissão. Não é justo, portanto, que a ira de cidadãos indignados e militantes de direitos humanos recaia exclusivamente sobre ele.
Imaginemos que, amanhã, cientistas comprovem a hipótese, bastante plausível, de que o fundamentalismo religioso é uma condição neurológica sobre a qual seus portadores têm pouco ou nenhum controle, a exemplo da gagueira ou da esquizofrenia. Creio que, neste caso, teríamos de incluir o pastor entre as minorias a serem protegidas pela CDHM.
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