segunda-feira, março 25, 2013

Fechados ao mundo - MARCILIO MARQUES MOREIRA

O GLOBO - 25/03

A turbulência que vem assombrando a economia global abalou a confiança na capacidade do mercado de melhor alocar recursos, precificar produtos e serviços, e constituir-se no espaço privilegiado da competição. Esta é mola propulsora da produtividade, fator essencial a bom ambiente de negócios que, para propiciar crescimento sustentável, exige, também, segurança jurídica e respeito a contratos e à propriedade.

O movimento pendular entre Estado e mercado, muito embora global, assume, entre nós, feição de disputa doutrinária. Estéreis dogmatismos ignoram a experiência histórica e as exigências de eficácia inerentes à vida moderna. Em contraste com a atuação governamental na área social que tem assegurado bons resultados, na área econômica opções ideológicas têm inibido medidas para enfrentarmos o ritmo e profundidade das mutações tectônicas em curso na economia global.

Em vez de adotar políticas holísticas de longo curso e larga abrangência, temos preferido medidas tópicas, de curto prazo e estreito foco, com resultados decepcionantes. Essa acupuntura intervencionista, de fato, tem concorrido para a presente conjuntura de baixo crescimento e desconfortável pressão inflacionária. A contrapelo, deveríamos acolher a lição de San Tiago que, há 50 anos, ensinara que não nos cabe fazer uma opção ideológica, ou doutrinária, entre iniciativa estatal e iniciativa privada. O que temos é de procurar, em cada caso, em cada ocorrência, qual dessas iniciativas nos permite obter níveis de adequação e eficiência, para de maneira consequente, nos fixarmos na escolha.

No mesmo veio, Amartya Sen, inspirador do índice de Desenvolvimento Humano, lembra que a oposição de Adam Smith à intervenção do Estado na economia se limitava aos casos em que ela Ignorasse o mercado como um dos mecanismos eficazes na busca de prosperidade.

Para superar a atual fase de desaceleração da economia brasileira, urge, portanto, retomar o processo de reformas estruturantes e melhor articular Estado e mercado, o que demanda o engajamento da sociedade civil, dos empresários, trabalhadores e consumidores, mobilizando o potencial de cada um, e atribuindo tarefas-chave aos mais aptos a seu exercício. Isto evitaria o desperdício de esforços que, embora bem intencionados, tem gerado resultados opostos ao almejado. Lastrearia, também, a inserção competitiva de nossa economia nas cadeias produtivas mundiais, revertendo o inconseqüente processo que nos tem levado à condição de uma das economias mais fechadas do mundo. Só estratégia verdadeiramente transformadora que inclua abertura externa e aggiornamento interno poderá capacitar-nos a evitar os riscos recônditos e a aproveitar as promissoras oportunidades que nos abre a sociedade do conhecimento, do baixo carbono, da menor desigualdade, da inovação criadora e da produtividade competitiva, isto é, da modernidade global da qual, por enquanto, parece?mos querer fugir.

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