FOLHA DE SP - 14/03
A diversificação da matriz energética reduziria a variação de ano para ano do custo global da eletricidade
Na Semana retrasada, em sua apresentação no Conselhão, a presidente Dilma destacou que o governo optou por hidrelétricas sem reservatórios (fio d'água) para reduzir as inundações -e os impactos ambientais e sociais associados- provocadas pela instalação dessas usinas. A contrapartida é ter mais termelétricas disponíveis para quando a seca diminui a geração hídrica.
Tenho dúvidas acerca do resultado ambiental líquido da opção por usinas fio d'água: será que impactos da queima de combustível da geração térmica são mais do que compensados pelos danos evitados por um alagamento menor?
De qualquer forma, a opção faz sentido. Como destaca meu colega economista e especialista em energia Alexandre Esposito, a quem consultei para esta coluna, a fronteira de expansão de hidrelétricas no Brasil está na Amazônia, onde são expressivos os impactos ambientais e também os sociais, associados a remoções populacionais, notadamente as indígenas, cuja ligação milenar com suas terras torna difícil até mesmo estabelecer contrapartidas.
Mas há um dilema, pois tal opção sai cara. O investimento hidrelétrico tem custo crescente por energia adicionada devido aos gastos com a mitigação dos impactos ambientais e à redução da disponibilidade de energia em razão do tamanho menor dos reservatórios, além da necessidade de implantar linhas de transmissão longas para levar a eletricidade aos centros de consumo.
O uso de reservatórios para regular o fluxo de água, permitindo estocar energia, ajuda a mitigar essa tendência, pois o benefício da energia gerada a mais em geral supera largamente o incremento do investimento para elevar o represamento.
Além disso, diminui-se o uso de combustíveis fósseis em termelétricas, cujos custos de operação podem chegar a R$ 800 MWh (a diesel e a óleo combustível), quase dez vezes o custo médio da geração de energia hídrica nova.
A presidente também protestou contra quem fez alarde nos últimos meses sobre o risco de o país enfrentar um racionamento de energia.
Países com forte participação da geração hídrica -como Canadá, Noruega e Brasil- têm em seu planejamento um nível aceitável de risco de deficit de energia, algo como 5%. Isso porque zerá-lo exigiria manter alta capacidade ociosa para serem usadas só em secas severas.
Claro que possíveis deficit não precisam ser tão duros como o racionamento de 2001, resultado de longo período de baixo investimento.
Outro dilema se relaciona à ponderação entre os objetivos de diversificar a matriz e o de buscar a curto prazo a modicidade tarifária.
No centro-sul, em especial São Paulo, há potencial de geração por biomassa equivalente a duas Itaipu. A cana costuma ser colhida na seca, isto é, seu ciclo é complementar ao hídrico. A energia eólica, que tem se ampliado a custos cadentes, também tem essa característica: venta mais quando chove pouco. O Brasil tem também a chance de ser líder em geração de energia solar.
Essas são tecnologias incipientes na matriz energética, cuja ampliação permitiria ao país ingressar no mercado global de equipamentos para energias renováveis.
Porém, a substituição das térmicas fósseis aumenta o custo total da energia elétrica, ao menos no curto prazo. É difícil que fontes alternativas consigam competir em preço com uma tecnologia madura.
Mas vale lembrar que as térmicas fósseis têm custo de implantação baixo e de operação alto. O custo final é dado pela ponderação desses valores pelo risco de a térmica ser usada. Mas esse risco é uma média de longo prazo. Assim, há uma alta dispersão em torno da média: em anos de muita chuva, o custo da térmica é baixo, mas, se a seca é severa, como em 2012, o impacto no custo final é significativo.
Portanto, a diversificação da matriz, ao diminuir a dependência das térmicas fósseis nos períodos de seca, reduziria a variação de ano para ano do custo global da eletricidade, além de propiciar o desenvolvimento tecnológico de fontes mais limpas que com o tempo tendem a se tornar mais baratas que as térmicas fósseis.
Em suma, o setor elétrico vai bem, mas, como um elemento-chave do crescimento sustentado, seu aperfeiçoamento precisa ser constante: acelerar a diversificação da matriz energética e discutir suas opções ambientais são temas da agenda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário