Os absurdos constatados em provas de redação que receberam pontuação máxima no Exame Nacional de Ensino Médio 2012 (Enem) chamam a atenção para a dificuldade de os estudantes se expressarem em língua portuguesa e colocam em xeque os critérios de correção utilizados pelo Ministério de Educação (MEC). É inadmissível que alunos próximos da transição para um curso superior possam cometer tantos erros grosseiros de ortografia e concordância, tais como "rasoável" por razoável, "enchergar" por enxergar e "trousse" por trouxe, além de conjugar no plural o verbo haver no sentido de existir, por exemplo. Mas é igualmente inaceitável que os responsáveis pela correção tenham atribuído nota 1.000 a esses textos. E não dá para aceitar que o MEC se recuse a dar explicações, sob a alegação de não querer expor os alunos, impondo dessa forma a hipocrisia da avaliação favorável para uma educação deficiente.
Quem acompanha a trajetória dos estudantes brasileiros de maneira geral não chega a se surpreender com os absurdos cometidos em muitos casos. Um em cada cinco alunos, por exemplo, conclui o Ensino Fundamental sem ter alcançado as condições básicas de compreensão de um texto. Um contingente igualmente expressivo chega ao final do Ensino Médio sem conseguir fazer relações entre diferentes ideias de um excerto qualquer. Em consequência, tem dificuldade de desenvolver um tema observando normas linguísticas elementares.
Ainda assim, o que preocupa é o fato de, além de o ensino ser deficitário, a ponto de expor falhas como as constatadas por reportagem do jornal O Globo, os responsáveis pela correção das provas simplesmente ignorem as deficiências. Como imaginar que alunos com tal grau de despreparo possam se mostrar aptos a redigir trabalhos de conclusão, artigos, formulários e outras tantas modalidades de texto do cotidiano de quem conclui curso superior?
Só consegue dominar a norma padrão da língua escrita quem se propõe a estudar e a dedicar um tempo de seu dia à leitura. Ignorar essa exigência, passando por cima dos erros, é contribuir para justificar e reforçar problemas generalizados do ensino e, em particular, do uso da língua portuguesa.
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