FOLHA DE SP - 17/02
Instituições de ciência e tecnologia progrediram na última década, mas assunto ainda é marginal
CIÊNCIA, TECNOLOGIA e escola não são assuntos brasileirinhos. Nosso descaso ignorantinho permite que a presidente lance num balão a hipótese de nomear políticos indizíveis para o Ministério da Ciência e Tecnologia.
Nesta coluna, na semana passada, comentava-se de passagem o "faux pas" de Dilma Rousseff, evidência de desprezo de tantos governos brasileiros pela área. O físico Sérgio Rezende, ex-ministro de Ciência e Tecnologia de Lula (2005-10), rebateu a crítica, em carta ao colunista.
Rezende foi o melhor ministro de Ciência que o país já teve. Reorganizou o setor, criou e ordenou instituições, fez planos, arrumou dinheiro para executá-los e cumpriu metas. Os laboratórios brasileiros estavam caindo aos pedaços. Rezende arrumou dinheiro para começar uma grande reforma e para multiplicar grupos de excelência, bolsas de pesquisa, doutores etc.
Isto posto, reconhecida a injustiça com o trabalho de Rezende, voltamos ao nosso problema: ciência e tecnologia, que deveriam ser uma das três ou quatro prioridades nacionais, não o são. O caso é mais desesperador devido à velocidade das mudanças econômicas e à letargia brasileira em inovação.
O Brasil é um dos países em que mais cresce a publicação de artigos científicos, lembra Rezende (ao triplo do ritmo verificado no resto do planeta). Mas registramos 0,3% das patentes do mundo, ante 5% de China ou Coreia do Sul. A parcela brasileira da produção científica mundial (em número de artigos qualificados) equivale mais ou menos à fatia do nosso PIB. Porém, em inovação estamos lá pelo meião de uma lista de 150 países.
Inovação depende de empresas, decerto. Mas depende de um sistema que crie intermediários entre empresa e universidade. Isto é, institutos de pesquisa, como Embrapa, Inpe, Luz Síncrotron, Butantan, Fiocruz etc., com tarefas e objetivos específicos. Os centros mais relevantes são dos anos 1970, ou de antes.
O Brasil ainda tem ambições autárquicas demais e mania de inventar a roda. Muita ciência está à disposição no mundo. É preciso descobrir o que nos interessa, de que precisamos, copiar, incorporar, desenvolver produtos e soluções. Para tanto, precisamos de institutos de pesquisa públicos e privados, de engenheiros para captar soluções na feira mundial de conhecimento; precisamos de trabalhadores qualificados bastantes para trabalhar em empresas que decidam inovar.
Precisamos reparar o desastre da escola básica, de mais formandos em ciência e engenharia. Mas mal formamos dúzias de professores de matemática.
Não "importamos" conhecimento dando sopa, na forma de pesquisadores de países avançados, devido a corporativismo e nacionalismo tosco. Os EUA, já potência líder no pós-guerra de 1945, deram então um salto enorme fazendo a rapa nos cérebros europeus.
Protegemos grandes empresas com subsídios, impostos de importação altos e incentivos à oligopolização em vez de exigirmos inovação e incremento de produtividade.
Sim, difícil de fazer. Depende de um grande programa de um governo que dê prioridade ao assunto, e não apenas melhore a situação do ministério ou da ciência básica.
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