FOLHA DE SP - 17/02
Em seu discurso do Estado da União, o presidente Barack Obama levantou três questões fundamentais para um governante: como criar mais emprego via crescimento econômico, como treinar adequadamente os trabalhadores e como assegurar que o trabalho bem executado resulte em bom padrão de vida.
São questões inter-relacionadas: o crescimento é diretamente correlacionado ao aumento da produtividade, que é correlacionado à melhora da educação, e esses dois fatores levam ao aumento de salários e do padrão de vida. As sociedades com modelos de crescimento bem-sucedidos são as que equilibram esses três fatores básicos.
A China privilegiou de forma radical o primeiro objetivo, crescer e gerar empregos. Depois, investiu fortemente em educação e treinamento, o segundo objetivo. Mas adotou como política a baixa remuneração e os poucos benefícios, visando elevar a competitividade exportadora e reduzir custos. As exportações cresceram exponencialmente, porém com padrão de vida relativamente baixo para a maioria dos chineses.
Países do sul da Europa adotaram outro sistema, baseado no acesso ao crédito barato da zona do euro. Investiram muito no aumento do padrão de vida, elevando benefícios, salários e proteção social, e descuidaram da competitividade.
Esses dois modelos atingiram o limite e estão se transformando. A China enfrentou as limitações do modelo exportador depois de a crise global derrubar a demanda por seus produtos. Mas ela já estava no momento de perseguir o terceiro objetivo, o aumento do padrão de vida, que eleva o consumo doméstico e substitui parcialmente as exportações. A China, portanto, move-se para um modelo mais equilibrado entre produtividade, treinamento e remuneração, com o fortalecimento do consumo.
Já países do sul da Europa adotam políticas rigorosas de restrição de benefícios e salários, investindo em produtividade, redução de custos e competitividade.
Todos são movimentos permeados pela grande dualidade entre direitos e deveres da sociedade, de difícil equilíbrio. Enquanto tivemos na Europa, principalmente no sul, grande ênfase nos direitos dos cidadãos, na China vimos ênfase excessiva nos deveres.
O Brasil busca, hoje, esse equilíbrio. O sistema econômico concentrador da década de 1970 evoluiu, pelo processo democrático, para a chamada "Constituição cidadã", que assegura uma série de direitos e benefícios ao cidadão. O momento, agora, é de investir na produtividade, que passa, entre outras coisas, pela maior ênfase nos deveres de cada um para com a sociedade, principalmente o de trabalhar com mais produtividade para assegurar renda maior.
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