A política comercial do governo Dilma é “cautelosa” e mira no modelo chinês de integração regional, mas sem a agressividade do gigante asiático e apostando na parceria com os países da América do Sul, explicou ao ‘Estado’ um auxiliar direto da presidente. Segundo essa fonte, nada muda na orientação da política comercial brasileira após o anúncio do início das negociações entre Estados Unidos e União Europeia para a formação de uma área de livre-comércio. “Vemos com naturalidade, sem nenhuma afobação subalterna”, disse. No Itamaraty, no entanto, o clima é de preocupação com os reduzidos movimentos do Brasil no front externo.
Para experientes negociadores, o País precisa fazer sua opção de política industrial: vai produzir tudo internamente confiando no tamanho do seu mercado ou vai se abrir para o mundo? Conforme o auxiliar da presidente, a ordem é avançar com as negociações bilaterais em curso com a União Europeia e o Canadá, mas com “realismo” e sem abrir mão do “projeto nacional” de desenvolvimento. “Acordos bilaterais provocam uma especialização de produção, que não é o caso do Brasil, que possui uma indústria diversificada”.
O governo Dilma refuta as críticas de que é“ protecionista”.Segundo esse interlocutor,o Brasil cumpre todas as regras da OMC e é “um dos países mais abertos do mundo ao investimento estrangeiro”, pois qualquer empresa estabelecida no País tem tratamento nacional com acesso a recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Essa fonte revela que a administração Dilma“ observa ”o modelo da China, que iniciou sua integração global pelos países da sua região, com destaque para Japão e Coréia do Sul, num processo que demorou décadas. O Brasil, no entanto, não utiliza a “agressividade” dos chineses, mas aposta no “soft power” e na “integração produtiva”. Para analistas do setor privado, a administração Dilma Rousseff vem mandando sinais confusos sobre sua política comercial.
O governo moderou o discurso de integração entre países pobres adotado na época do presidente Lula e tenta avançar nos acordos bilaterais com os ricos, mas, ao mesmo tempo, elevou tarifas de importação de insumos importantes como aço ou químicos e estabeleceu barreiras à entrada de carros importados. “Os acordos bilaterais pífios do Brasil denotam uma opção política de assumir que é um país grande, que precisa ter cautela e preservar alguns setores. Mas não somos tão resistentes como Argentina ou Venezuela. O debate sobre a abertura está inconcluso”, diz Lia Valls, professora da Fundação Getúlio Vargas.
Mercosul-UE
Uma das negociações que mais despertam o interesse do governo brasileiro hoje é Mercosul-União Europeia. Segundo fontes presentes à reunião da parceria estratégica entre Brasil e UE, que ocorreu janeiro em Brasília, a presidente Dilma demonstrou “muita disposição” em retomar as negociações com os europeus. No segundo semestre, deve ocorrer uma troca de ofertas de abertura de mercado entre os dois blocos. Conforme uma fonte, a razão da demora é a volta do Paraguaia o Mercosul, que só deve ocorrer após as eleições e a posse do novo presidente.
O Ministério do Desenvolvimento realizou uma consulta pública entre os empresários sobre o acordo com os europeus. Vários setores mantiveram a oferta que havia sido apresentada em 2004, apesar de o cenário hoje ser muito pior para a indústria. O maior desafio do Brasil, no entanto,será convencer a Argentina, da presidente Cristina Kirchner, a negociar a sério com os europeus. No fim do mês, os sócios do Mercosul se reúnem em Montevidéu, e os técnicos vão tentar tratar do assunto.
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