FOLHA DE SP - 02/02
SÃO PAULO - A escolha de figuras, digamos, controversas para comandar o Legislativo configura um curioso caso de dilema social, que são aquelas situações em que há um descompasso entre os interesses coletivos ou de longo prazo do grupo e os interesses individuais ou de curto prazo de seus membros.
Também entram nessa categoria de problemas, que vem recebendo crescente atenção de matemáticos, biólogos, economistas e sociólogos, questões como o controle da poluição e a conservação de recursos naturais (tragédia dos comuns).
Em princípio, é ruim para os próprios parlamentares eleger líderes que maculem a imagem do Congresso. Podendo, todo mundo prefere fazer parte do clube cujos sócios sejam vistos como homens probos e virtuosos, não como larápios e corruptos.
Numa visão mais imediatista, porém, não é absurdo trocar os difusos ganhos de imagem por vantagens concretas como a defesa de interesses corporativistas e o histórico de confiabilidade (no jogo político, é claro) dos candidatos polêmicos. Isso é especialmente verdade num sistema no qual cada senador ou deputado não incorre em nenhum ônus pessoal ao eleger gente de má reputação aos olhos da sociedade.
Soluções para dilemas sociais passam por estimular a cooperação e a visão de longo prazo dos envolvidos, bem como torná-los individualmente responsáveis por suas ações e os resultados que elas engendram.
No caso dos nossos congressistas, a medida mais óbvia é acabar com o voto secreto para a presidência das duas Casas, impedindo que o legislador se esconda sob o manto do anonimato. A pressão da opinião pública também é um elemento importante, ainda que insuficiente, como sugerem os muitos discursos de senadores em defesa de Renan Calheiros.
Dilemas, por definição, não comportam soluções plenamente satisfatórias. Mas isso não é motivo para não tentar melhorar o que é possível.
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