sábado, fevereiro 02, 2013

Intervenção demagógica nos combustíveis perdura - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 02/02


O governo interveio de maneira equivocada na política de preços para os combustíveis, e os reflexos negativos dessa intervenção vão perdurar ainda algum tempo sobre esse setor vital para a economia. Com o crescimento da frota de veículos, era de se esperar que houvesse uma expansão considerável no consumo dos combustíveis. Mas, para angariar dividendos eleitoreiros, o governo resolver segurar os preços domésticos dos principais derivados (óleo diesel e gasolina), ignorando a lei de oferta e procura. Ao desatrelar os preços domésticos das cotações internacionais, o governo eliminou a única referência que poderia ter um mercado que ainda prevalece um monopólio de fato, em razão de a Petrobras deter o controle de todas as refinarias existentes no país.

Os preços da gasolina, do óleo diesel e do GLP são bem visíveis para a a maioria das pessoas. Já os dos demais derivados, não. A alta do querosene de aviação pesou nos custos das companhias aéreas, e uma parte acabou repassada ao valor cobrado pelas passagens. O encarecimento da nafta pesou na cadeia de produtos petroquímicos, plásticos e até farmacêuticos. O combustível usado nos navios pesou sobre os fretes marítimos. Então, é evidente que a contenção dos preços mais visíveis dos combustíveis teve mais propósito demagógico do que efetivamente uma preocupação econômica. Ajuda a segurar a inflação, mas a estatal subsidia a manobra.

As consequências são sentidas no salto do consumo de gasolina, o que obrigou a Petrobras a importar enormes volumes do produto, em condições que lhe são financeiramente desvantajosas. A empresa tem acumulado receitas aquém do que obteria se não houvesse essa intervenção demagógica. São recursos que estão fazendo falta nos pesados investimentos que a empresa realiza para aumentar sua produção, inclusive de derivados que hoje importa. E esse enfraquecimento ficou claro para os mercados. No dia seguinte ao anúncio do reajuste de 6,6% dos preços da gasolina e do diesel as ações da empresa caíram fortemente (5%) nas bolsas. Por essa reação, constata-se que os mercados financeiros não acreditam que a companhia entrará em uma trajetória de balanços bem mais saudáveis. E segunda-feira, a companhia deve divulgar seu resultado de 2012, um dos piores dos últimos tempos.

Mais cedo ou mais tarde o governo terá de desfazer essa política míope, não apenas para não continuar prejudicando a Petrobras, mas também porque indiretamente tem afetado outros segmentos importantes, como o etanol. Uma parte do explosivo aumento do consumo de gasolina (suprido consideravelmente por importações) decorreu da escassez de álcool hidratado no mercado interno.

O intervencionismo governamental quase sempre é maléfico, exatamente por estar sujeito a influências político-eleitorais. Mesmo sendo uma companhia de capital aberto, a Petrobras não ficou imune a esses efeitos nocivos.

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