É natural que parte do debate seja dedicada a questões internas do Senado e da Câmara, afinal, os eleitores são os próprios parlamentares. O problema é quando apenas tais temas dominam a agenda -- ou pior, quando nem mesmo existe discussão sobre projetos de interesse da população
Acabou a eleição para o comando do Senado. Na próxima segunda-feira, finda a da Câmara. O que era para ser algo relevante para a política nacional e para os brasileiros passou longe de interesses sociais. A campanha e a escolha dos comandantes do Congresso ocorreram internamente, em silêncio, sem luz.
Alguém aí sabe o que pensam o novo presidente do Senado e os candidatos à chefia da Câmara sobre temas como discriminalização das drogas ou revogação do Estatuto do Desarmamento? Os dois assuntos, do nosso interesse direto, estão na pauta do Legislativo, mas ficaram distante de debate.
Reportagem publicada neste Correio no dia 23, de autoria de Helena Mader, mostrou que, pelo menos, mais seis temas estão na bica de serem votados — mas nunca chegaram a ser lembrados ao longo da corrida. Renan Calheiros (PMDB), diga-se, apenas anunciou a candidatura horas antes da eleição, justamente para descaracterizar a campanha. Sem a formalização da disputa, debate para quê?
Os assuntos da pauta da eleição da Câmara, por sua vez, foram a construção de um edifício anexo, com custo estimado em R$ 22 milhões e a promessa de aumentar o espaço para acomodar parlamentares e assessores. Se nenhum desses assuntos interessa ao eleitor, imagine então a proposta de equiparação imediata dos salários dos parlamentares ao dos ministros do Supremo. Poderiam nos poupar, pois.
É natural que parte do debate seja dedicada a questões internas do Senado e da Câmara, afinal, os eleitores são os próprios parlamentares. O problema é quando apenas tais temas dominam a campanha — ou pior, quando nem mesmo existe discussões sobre projetos ou mesmo assuntos que interessem mais diretamente a população. Se já existe uma barreira entre políticos e cidadãos, ela apenas aumentou.
Os temas
É mais do que evidente a legitimidade da eleição dos presidente da Câmara e do Senado pelos próprios parlamentares. Não é isso que está em discussão. Se elegemos os camaradas, apostamos que eles serão capazes de escolher o melhor para o Congresso – apesar de quase nunca ser isso o que ocorre. Mas o mínimo que o cidadão deseja é conhecer os comandantes do Congresso. E aí valem, até mesmo, as denúncias contra os camaradas. Sim, nada mais democrático do que a imprensa para expor políticos.
De certa forma, a tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, serviu para que a mídia e a população voltassem todas as atenções para o Rio Grande do Sul. Assim, inevitavelmente, o espaço para a eleição no Senado ficou em segundo plano, quase perdido no meio do noticiário sobre as mortes. Se o objetivo do PMDB era ganhar o Senado sem alarde, o partido conseguiu, mesmo que por uma circunstância não planejada e trágica. Mais do que escapar de denúncias, os parlamentares se livraram do debate.
Em 2014
Ao garantir a vitória na próxima segunda-feira na Câmara dos Deputados com o Henrique Eduardo Alves, o PMDB se estabelece como a legenda mais forte daquelas aliadas ao Palácio do Planalto. E fortalece Michel Temer como vice-presidente na candidatura à reeleição de Dilma Rousseff. A partir de agora, o cacique peemedebista vai comandar, a partir do Jaburu, diretamente, toda e qualquer negociação que queira. E não apenas em uma Casa, mas nas duas. Nunca foi tão poderoso.
O poder de Temer e dos peemedebistas terá reflexo nas decisões e na agenda dos próximos dois anos. A única coisa que não mudará, entretanto, é a divisão interna do PMDB, que, a partir de agora, ficará mais visível para o público. Para bem e para o mal do governo Dilma Rousseff.
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